'Aprendi a conviver com a minha doença e entendi que ela não me limita em nada', diz jovem que descobriu diabetes aos 9 anos

Railla Haenel, de 25 anos, foi diagnosticada com diabetes aos 9 anos
Arquivo pessoal
“Aprendi a conviver com a minha doença e entendi que ela não me limita a nada”. Este é o relato de Railla Haenel, de 25 anos, que foi diagnosticada com diabetes aos 9 anos.
O g1 conversou com a moradora de Volta Redonda (RJ) neste Dia Mundial do Diabetes (14) sobre como foi possível levar uma vida leve e cheia de sonhos após o diagnóstico.
Os primeiros sintomas foram fraqueza, sede excessiva e idas recorrentes ao banheiro. Na época, Railla chegou a ir ao médico, mas não foi pedido nenhum exame, foi diagnosticada com virose, medicada e voltou para a casa.
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Mas, apesar de ter sido liberada do hospital, os sintomas seguiram por vários dias. A descoberta aconteceu depois de um fim de semana de viagem em família. Na ocasião, os pais compraram um sonho de doce de leite para ela. Railla levou para comer na escola no dia seguinte e assim que comeu começou a passar muito mal.
“Depois que comi, comecei a passar muito mal e pedi pra professora ligar pros meus pais. Ela achou que fosse pressão baixa e até me ofereceu um café. Tomei o café… e não lembro de mais nada depois disso”, lembrou Railla.
Ao acordar no hospital, o pai dela foi quem deu a notícia: Railla foi diagnosticada com diabetes tipo 1.
“Foi um susto enorme, mas também o início de uma nova fase da minha vida, de aprendizado e de cuidado comigo mesma. Lembro dele olhar pra mim e dizer: ‘Filha, pode ficar tranquila. Você não vai poder mais comer doce, vai precisar tomar um remedinho todo dia, mas existem tantas outras opções que nada vai te fazer falta. Essas palavras me trouxeram um alívio enorme, completou.
Mudança na rotina
Insulina
Reprodução
O início foi de adaptação. Railla precisou aprender a conviver com as aplicações diárias de insulina e com o controle da glicemia. Tudo o que fazia antes precisou ser readaptado: alimentação, horários, uso de remédios e atividade física.
Apesar da mudança de vida repentina, com o tempo, ela passou a entender que o tratamento era o que a dava liberdade para viver bem.
“A verdade é que nós, diabéticos, não temos escolha, o tratamento exige presença o tempo todo. Costumo dizer que viver com diabetes é como equilibrar um balão azul nas mãos: você não pode deixar o balão cair, mas também não pode deixar ele subir e escapar. Ele precisa estar sempre ali, sob controle, em equilíbrio”, contou.
Apoio da família
O apoio dos pais foi fundamental para lidar com os desafios do diagnóstico de uma doença crônica aos 9 anos de idade.
“Minha família foi essencial, falo isso com letras maiúsculas, nesse processo de descoberta e tratamento. Eles estiveram ao meu lado todos os dias, me ensinando, me ajudando e me dando força pra entender e aceitar tudo isso”, pontuou.
A mãe dela chegou a sair do emprego para se dedicar integralmente aos cuidados da filha, que por ser nova precisava de acompanhamento constante.
“Era ela quem aplicava a insulina, media minha glicose e preparava minhas refeições nos horários certos. Ela fez tudo o que podia e fez com tanto amor e dedicação que eu costumo dizer que ela foi perfeita em cada detalhe”, lembrou.
Aceitação e autocuidado
Railla Haenel, de 25 anos, foi diagnosticada com diabetes aos 9 anos
Arquivo pessoal
Hoje, aos 25 anos, Railla leva uma vida ativa e equilibrada. Trabalha, se diverte, se alimenta com cuidado e faz acompanhamento médico.
“Todos os dias com a diabetes são desafiadores, afinal, é uma preocupação constante. Mas, hoje lido com tudo de forma muito mais tranquila, porque me conheço e sei os meus limites. Aprendi a conviver com a minha doença e entendi que ela não me limita em nada. Pelo contrário, me tornou uma pessoa mais consciente, responsável e forte”, finalizou.
Sobre o diabetes
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O diabetes é uma doença silenciosa e sem cura, mas que tem controle, por isso o tratamento é contínuo. Na doença, o corpo não produz insulina ou não consegue empregar adequadamente a insulina que produz. Sem ou com pouca insulina, o açúcar fica em excesso na corrente sanguínea. O diabetes se apresenta de duas formas: tipo 1 e tipo 2.
Diabetes tipo 1 é uma doença autoimune em que ocorre a destruição das células que produzem a insulina, ou seja, o pâncreas para de produzir a insulina. Por ser autoimune, pode ocorrer em qualquer idade, sendo mais frequente na infância. Os sintomas mais comuns são sede, emagrecimento, muito xixi, cansaço e fraqueza. O tratamento é com insulina e não tem como prevenir.
No caso do diabetes tipo 2, o pâncreas produz insulina, mas existe uma resistência. Como a insulina não age, o pâncreas entende que precisa produzir mais. O aparecimento de sintomas é mais lento e o diagnóstico também. Os sintomas são aumento de apetite, muito xixi, formiga no vaso sanitário, fraqueza, dor nas pernas, candidíase vaginal.
Diabetes
Danielly Freitas- PMFS
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que o Brasil tenha 16,8 milhões de pessoas com diabetes, colocando o país entre os 10 com maior número de casos.
O g1 conversou com a Dra. Catalina Perez, Médica Especialista em Patologia Clínica, sobre a doença. Confira abaixo a entrevista:
1) Por que é tão importante o diagnóstico precoce do diabetes?
O diagnóstico precoce é essencial para evitar complicações graves e irreversíveis. Sem um diagnóstico oportuno e um controle adequado, o diabetes pode provocar crises agudas, como a cetoacidose diabética, uma emergência médica que requer intervenção rápida, além de aumentar o risco de lesões renais, oculares e cardiovasculares. Quanto antes o quadro é identificado, maiores são as chances de prevenir danos a esses órgãos, evitar hospitalizações e garantir qualidade de vida.
2) O que é diabetes silenciosa?
É importante observar que muitas pessoas se sentem bem enquanto seus níveis de glicose estão elevados, o que atrasa o diagnóstico, isso é conhecido como diabetes silenciosa. Esse comportamento ‘silencioso’ permite que o dano a órgãos vitais ocorra sem que o paciente perceba. O maior risco não é apenas ter diabetes, mas não saber disso a tempo. Muitos pacientes descobrem a doença quando já enfrentam essas complicações.
3) Quais são os principais riscos quando a doença não é identificada ou controlada a tempo?
Entre os principais riscos estão danos a órgãos como olhos (retinopatia diabética), o excesso de glicose danifica os vasos sanguíneos da retina. No início não há sintomas, mas com o tempo pode causar visão turva e cegueira. É a principal causa de perda visual em adultos em idade produtiva; rins (nefropatia diabética), o diabetes é a principal causa de doença renal crônica. O dano é progressivo e pode levar à insuficiência renal, exigindo diálise ou transplante; coração e vasos sanguíneos – aumenta o risco de infarto e acidente vascular cerebral. Uma pessoa com diabetes tem até quatro vezes mais probabilidade de sofrer um evento cardiovascular; sistema nervoso (neuropatia diabética), provoca formigamento, queimação ou perda de sensibilidade nas mãos e nos pés. Isso facilita o surgimento de feridas que não cicatrizam, infecções e amputações (pé diabético). Além do risco desses danos, a doença pode levar a complicações graves como cetoacidose diabética ou coma hiperosmolar: condição que pode evoluir para coma e até morte; emergências recorrentes: como desidratação, infecções graves e descompensações metabólicas; e impactos emocionais em adultos, mas especialmente em adolescentes, pelas condições mencionadas anteriormente.
4) No caso de crianças e adolescentes, há sinais de alerta aos quais os pais devem prestar atenção?
Sim. Os principais sinais de alerta são sede excessiva, urina frequente e em grande volume, perda de peso inexplicável, cansaço e mudanças de humor. Qualquer infecção recorrente ou internação repetida também merece investigação. É comum que os jovens tenham dificuldade em aceitar a doença, o que reforça a importância de um acompanhamento multidisciplinar com apoio médico, psicológico e familiar.
5) Quais são os principais avanços na medicina e na tecnologia que hoje ajudam no controle do diabetes?
Os avanços mais relevantes incluem monitoramento contínuo de glicose (CGM), com alarmes em tempo real; bombas de insulina inteligentes, que ajustam automaticamente a dose; diagnóstico laboratorial rápido, com exames como a gasometria arterial, que identificam crises metabólicas de forma imediata e biomarcadores específicos, que permitem detectar precocemente complicações vasculares e inflamatórias.
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Fonte: g1