Chip da visão: dispositivo pioneiro do tamanho de um fio de cabelo devolve a visão a pacientes com dificuldade de enxergar


Mulher volta a enxergar depois de implantar microchip nos olhos, na Inglaterra
Diagnosticada com degeneração macular seca — também conhecida como atrofia geográfica — Sheila perdeu a capacidade de enxergar detalhes, reconhecer rostos, ler livros e até dirigir aos 30 anos. “Quando eu dirigia, vivia batendo no meio-fio. No começo, foi assim. Depois a visão até ficou estável por um tempo, mas de repente piorou muito rápido”, conta.
A esperança de voltar a enxergar surgiu em Malmesbury, cidade onde vive. Foi lá que ela conheceu David Canton, gerente de uma ótica local. “Ela enxergava tudo branco, com muito brilho. Veio procurar óculos escuros. Isso foi há sete anos e ficamos amigos”, lembra ele.
Ao saber de um tratamento experimental em Londres, Sheila pediu ajuda a David. A proposta era ousada: implantar um microchip no olho para tentar recuperar parte da visão. David organizou uma vaquinha online para custear as viagens semanais de trem até a capital inglesa, onde Sheila passou a ser acompanhada por uma equipe liderada pelo cirurgião oftalmologista Mahi Muqit. chefe do estudo na Inglaterra.
A pesquisa, ainda em fase experimental, envolve apenas 38 pacientes no mundo — sendo que 27 deles já apresentaram melhora na visão. Sheila está entre os beneficiados.
“É uma tecnologia com aspectos nunca vistos antes. Pacientes cegos, com degeneração macular e atrofia geográfica, agora podem ter uma visão significativa, algo inédito”, afirma o médico.
Como funciona a cirurgia?
Os cirurgiões inserem, embaixo da retina, um microchip de dois milímetros — a mesma espessura de um fio de cabelo. O paciente, então, passa a usar um óculos especial, que tem uma câmera conectada a um controle remoto de bolso, com função de zoom. O paciente vai regulando, deixando as imagens maiores ou menores.
Cérebro interpreta sinais elétricos filtrados por tecnologia que envolver chip nos olhos
Reprodução Fantástico
Algoritmos de inteligência artificial processam essas imagens e as convertem em um sinal elétrico. Esse sinal passa pelas células da retina e do nervo óptico até o cérebro, onde a mágica acontece — o sinal é interpretado como visão.
Após a cirurgia, os pacientes passam por meses de reabilitação para reaprender a enxergar. “A maioria consegue ler até cinco linhas desses testes. Alguns chegam a completar toda a tabela, o que é incrível! Principalmente porque, se desligarem o aparelho, eles imediatamente perdem essa habilidade”, explica Muqit.
Sheila já consegue reconhecer rostos, cozinhar e até fazer palavras cruzadas. “Agora ela me viu e me reconhece!”, comemora David. “É uma nova maneira de enxergar, sabe? Os médicos me mostraram umas letras, e eu logo li tudo, feito um raio. Voltei a ficar empolgada e pensei: ‘Ah, era pra acontecer. Era pra acontecer!’”, diz Sheila, emocionada.
Apesar dos avanços, o tratamento ainda não tem previsão de chegada ao Brasil. Países como França, Itália, Alemanha, Holanda e Estados Unidos também participam da pesquisa, que pode representar um marco na luta contra a cegueira causada por doenças degenerativas da retina.
Ouça os podcasts do Fantástico
ISSO É FANTÁSTICO
O podcast Isso É Fantástico está disponível no g1 e nos principais aplicativos de podcasts, trazendo grandes reportagens, investigações e histórias fascinantes em podcast com o selo de jornalismo do Fantástico: profundidade, contexto e informação. Siga, curta ou assine o Isso É Fantástico no seu tocador de podcasts favorito. Todo domingo tem um episódio novo.
PRAZER, RENATA
O podcast ‘Prazer, Renata’ está disponível no g1 e nos principais aplicativos de podcasts. Siga, assine e curta o ‘Prazer, Renata’ na sua plataforma preferida.

Fonte: g1