Colapso recorde na Antártida: geleira recua 8 km em dois meses e surpreende cientistas; entenda


Entre novembro de 2022 e janeiro de 2023, a geleira Hektoria, localizada na Península Antártica Oriental, perdeu 8 quilômetros de gelo em apenas dois meses, um ritmo quase dez vezes mais rápido que o já registrado para geleiras presas ao solo.
O evento extremo foi descrito por cientistas da Universidade do Colorado Boulder em um artigo publicado na revista científica “Nature Geoscience” nesta segunda-feira (3), que aponta uma explicação inédita: a presença de uma “planície de gelo”, uma área de base rochosa plana sob a geleira, que teria permitido que ela flutuasse de forma repentina, levando a um colapso em cadeia
📱Baixe o app do g1 para ver notícias em tempo real e de graça
🧊 ENTENDA: Essa planície funciona como uma espécie de “piso instável” para a geleira. Quando o gelo se torna mais fino, ele perde parte do contato com o solo e começa a boiar sobre a água do mar, o que reduz o atrito e enfraquece sua estrutura.
A partir desse momento, o bloco de gelo passa a se mover com mais facilidade, fragmentando-se em grandes pedaços e liberando icebergs em série.
E foi justamente esse mecanismo, e não um aumento súbito de temperatura, que desencadeou o recuo acelerado da Hektoria.
A geleira Hektoria em fevereiro de 2024, durante expedição na região de Larsen B. O que restou dela agora são blocos de gelo espalhados pela baía.
Naomi Ochwat
O resultado foi um colapso súbito, como se toda a base da geleira tivesse cedido de uma vez.
Naomi Ochwat, pesquisadora do Instituto Cooperativo para Pesquisas em Ciências Ambientais (CIRES, na sigla em inglês), explica que, por causa disso, a Hektoria passou por uma sequência de eventos que culminaram no maior recuo já documentado em uma geleira continental.
Quando sobrevoamos a Hektoria em 2024, não consegui acreditar na vastidão da área que tinha colapsado”, disse Ochwat. “Ver aquilo de perto foi estarrecedor”.
Beryl, Helene e Milton: veja a lista de 21 nomes já escolhidos para furacões e tempestades de 2024
A pesquisa mostra que o recuo começou após o rompimento do gelo marinho que estabilizava a geleira havia uma década.
Com a perda desse suporte, o gelo começou a se fragmentar, acelerando o derretimento e a movimentação do fluxo glacial. A
A equipe identificou um pico de retração em novembro e dezembro de 2022, quando o front da geleira recuou 0,8 km por dia, o equivalente a 40 km² de gelo.
Além do colapso visível por satélite, os cientistas registraram uma série de “terremotos glaciais”, pequenas ondas sísmicas geradas pelo desprendimento de blocos de gelo.
Esses tremores confirmaram que o gelo ainda estava preso ao leito rochoso durante o evento, o que significa que a perda contribuiu diretamente para o aumento do nível do mar.
Segundo Ted Scambos, coautor do estudo e pesquisador sênior do CIRES, o episódio muda a percepção sobre a vulnerabilidade da Antártida:
Por que as temporadas de tempestades tropicais explodem cada vez mais cedo e mais fortes
“O recuo da Hektoria é um choque. Esse tipo de colapso em velocidade relâmpago muda o que acreditávamos ser possível. Se as mesmas condições se repetirem em geleiras maiores, isso pode acelerar dramaticamente a elevação do nível do mar”, afirmou
Os dados indicam que a geleira perdeu cerca de 84 km² de gelo entre novembro de 2022 e março de 2023, com uma taxa de afinamento que chegou a 80 metros por ano — a mais alta já registrada no planeta para um corpo de gelo desse tipo
Estudos anteriores já haviam identificado regiões semelhantes de “planícies de gelo” sob outras geleiras antárticas, como Thwaites e Pine Island, duas das mais críticas para o equilíbrio global.
Por isso, os autores alertam que o mapeamento detalhado do relevo sob o gelo é essencial para prever novos eventos de desintegração súbita.
“A Hektoria é pequena, tem o tamanho aproximado da cidade da Filadélfia, mas um evento assim em geleiras maiores seria catastrófico”, alertou Ochwat.
Pesquisadores voam no olho do furacão Milton, de categoria 5

Fonte: g1