Gente gosta de gente. Essa é uma verdade inegociável, que por algum tempo esquecemos ou, talvez, nos deixamos enganar pela solidão que a vida digital nos apresentou. Durante anos, fomos atraídos pela promessa de uma hiperconexão que, na prática, mais nos isolou do que nos aproximou.
Com a pandemia, acrescentada nessa conta, essa ilusão ganhou proporções inéditas. Acreditamos que poderíamos viver conectados à distância, manter vínculos apenas através de telas e avatares, mediando nossas relações por algoritmos e feeds infinitos.
O resultado? Uma profunda crise global. Não apenas uma crise econômica, mas uma crise afetiva, relacional e, sobretudo, de pertencimento. Vivemos, enfim, o que chamo de uma travessia: da solidão digital à comunidades reais, ou seja, a revolução das microcomunidades.
A solidão, que antes parecia uma experiência subjetiva e privada, tornou-se, de fato, uma questão de saúde pública. Não é mais uma metáfora: é estatística, é sintoma, é urgência. Pesquisa da Universidade de Penn State, nos Estados Unidos, revela que mesmo a falta temporária de conexão social impacta a saúde física, causando fadiga, náusea e dores de cabeça. O corpo responde à ausência de vínculo. E o que estamos vendo hoje é que ninguém mais suporta se sentir só.
Essa constatação exige de nós um movimento consciente: é urgente reinventarmos nossa maneira de nos relacionar. O digital continua sendo crucial, e não se trata de negá-lo, mas de reconfigurá-lo. Estamos vivenciando uma transformação estrutural: além de não aguentar mais a solidão, as pessoas desejam pertencer a algo, fazer parte. Querem encontrar seus pares, estabelecer conexões significativas, sentir-se vistas e acolhidas.