Entenda o papel do Pará na busca global por minerais essenciais à transição energética e tecnologia limpa


A redução das emissões de gases de efeito estufa é um dos temas da COP 30, em Belém. Para promover a descarbonização da economia e uma transição energética justa, uma das soluções vem de tecnologias como baterias e veículos elétricos e painéis solares.
Segundo o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), a produção de tecnologias de baixo carbono dependem intensamente de minerais críticos e estratégicos e o Pará se encaixa nessa relação como um dos principais fornecedores desses insumos no Brasil.
⛏️Dados do Boletim da Mineração Paraense divulgados em novembro deste ano apontam que o Pará ficou em segundo lugar entre os 10 estados que mais produziram minérios no país em 2024.
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Agência de mineração cria divisão de minerais críticos
Pará busca elaborar plano de sustentabilidade para a mineração
O professor Rômulo Simões Angélica, do Instituto de Geociências da Universidade Federal do Pará (UFPA), diz que não há a menor dúvida sobre a grande importância e necessidade de minerais críticos, como cobre, níquel e lítio, para a indústria e produção de dispositivos.
🚗Um exemplo dessa utilização é na produção de veículos elétricos, que podem demandar até seis vezes mais minerais do que um carro convencional, movido a combustíveis fósseis.
Para o pesquisador da UFPA, o Pará tem condições para fazer uma mineração sustentável que traga retorno para a sociedade por meio da geração de emprego, impostos e serviços.
Eduardo Martins, ex-presidente do Ibama e atual diretor do Grupo Associado de Agricultura Sustentável (Gaas), também acredita que é possível equacionar para que o investimento gerado pela atividade minerária permaneça no contexto em que está sendo realizada.
Biólogo e mestre em ecologia, Martins diz que “não há crise de soluções” e que é preciso buscar, juntamente com os amazônidas, respostas sobre como tratar, cuidar e potencializar essas questões.
O papel dos grandes empreendimentos é fazer o melhor aproveitamento possível, da forma menos impactante, mas deixar, sobretudo, uma herança de possibilidades para que o desenvolvimento daquele local possa continuar
De acordo com o Sindicato das Indústrias Minerais do Estado (Simineral), o Pará está pronto para ser um dos protagonistas do Brasil na transição energética justa, combinando inovação, responsabilidade social e compromisso ambiental.
Esta é a primeira reportagem da série sobre minerais críticos, transição energética e o papel do Pará no contexto da COP 30. Nesta matéria, você vai entender o que são minerais estratégicos e como a Conferência do Clima pode ser um espaço para debater modelos de mineração sustentável.
O que são minerais críticos? 🔍
Segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), vinculada ao Ministério de Minas e Energia, a definição de minerais críticos está ligada à atual transição energética global que busca fontes renováveis e mais sustentáveis para produzir, consumir e distribuir energia.
Minerais como lítio, cobalto, níquel, cobre e elementos de terras raras são, de acordo com o Ibram, fundamentais para produzir tecnologias de baixo carbono.
O professor Rômulo Simões explica que minerais críticos são elementos químicos que não estão “soltos” na natureza. Ele cita como exemplo o cobre, que precisa ser extraído e processado para separá-lo da estrutura cristalina de um mineral chamado calcopirita. Veja no vídeo abaixo a explicação.
Professor Rômulo Simões da UFPA explica um pouco mais sobre os minerais críticos.
O Simineral afirma que o setor de minérios do Pará é um dos protagonistas no fornecimento desses insumos, que são essenciais para a produção de baterias elétricas, semicondutores, turbinas eólicas e painéis solares. Veja na tabela abaixo outros usos:
Principais minerais críticos e estratégicos no Brasil.
g1 Pará/TV Liberal
Amazônia e os minerais críticos no debate da COP 🌍
O Serviço Geológico do Brasil (SGB) afirma que a grande diversidade geológica do país, com ambientes favoráveis para novas descobertas de minerais críticos e estratégicos, colocará o Brasil no centro do debate sobre a transição energética durante a COP 30.
Para o Ministério de Minas e Energia (MME), o Brasil terá na COP a oportunidade única de se apresentar como potencial líder na mineração sustentável.
Por ser o segundo maior produtor mineral do Brasil e ter a mineração como principal setor exportador do estado, o Simineral afirma que o Pará vem se preparando de forma estruturada para atender à crescente demanda global por minerais estratégicos.
Segundo o Sindicato das Indústrias Minerais do Pará, é possível produzir minerais críticos de forma sustentável, contribuindo para um futuro de baixo carbono e fortalecimento da Amazônia.
Essa sustentabilidade (mineração com menor impacto ambiental, maior justiça social e benefícios econômicos duradouros) requer a adoção de ações e compromissos por parte dos países participantes da COP.
O Ibram afirma que a proposta brasileira para a COP 30 pode incluir a criação de um pacto de rastreabilidade de minerais críticos e estratégicos na Amazônia.
O diretor executivo da Centaurus Metals, Bruno Scarpelli, diz que a criação de um pacto de rastreabilidade garante que os insumos extraídos cumpram critérios rígidos e venham de empreendimentos devidamente licenciados, combatendo assim a mineração clandestina.
Níquel possui uma importância crucial para a transição energética global, sendo considerado um dos minerais críticos para as tecnologias de energia limpa.
Divulgação/Centaurus Metals
A Centaurus Metals está instalada em São Félix do Xingu, no sudeste do Pará, por meio do Projeto Jaguar, que explora níquel sulfetado, mineral estratégico para produção de baterias elétricas.
Essa rastreabilidade visa justamente coibir isso. Se você consegue rastrear a origem daquele mineral, ele nunca vai vir de uma atividade clandestina. Ele vai vir de uma atividade, de um empreendimento que foi devidamente licenciado, cujos impactos foram avaliados, mitigados ou compensados
Para Eduardo Martins, ex-presidente do Ibama, ocasiões como a COP precisam ser analisadas de fato como uma oportunidade. Ele diz que o evento traz discussões fundamentais para inspirar uma ação consistente no país.
“O desafio reside em como o Brasil pode pegar a definição de transição energética e ‘traduzir ela em mineração’, ou seja, como essa mineração deveria estar se dando no contexto da Amazônia, levando em conta os desafios de governança e impacto”, analisa.
Na visão da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), a COP pode ser uma oportunidade para o país preencher falhas que existem no “ecossistema” de produção de veículos elétricos e grandes acumuladores (bateria fixa).
Segundo Vinicius Alvarenga, diretor de Infraestrutura da ABVE e CEO da Companhia Brasileira de Lítio, o Brasil é um produtor mineral maduro que há décadas tem indústrias de ponta, de classe mundial, que produzem cobre e níquel de forma sustentável no Pará.
Mas apesar da base da cadeia ser forte, o restante do “ecossistema”, até chegar no ponto final da eletrificação (veículos elétricos), apresenta falhas. Alvarenga diz que “faltam políticas públicas que criem demanda forte no mercado interno”.
“Nós desejamos que a COP seja um sucesso, que ela possa resultar numa certa obrigação ao nosso país para que haja uma política pública que incentive a aquisição de veículos eletrificados. […] Metas de redução de pegada de carbono que levem o governo a eletrificar com mais intensidade”, defende.
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Amostras de sondagem no Projeto Jaguar de níquel sulfetado, no Pará.
Centaurus Metals
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Fonte: g1