
Vendedoras de loja ‘Irmãos Baby’, na Vila Sabrina, Zona Norte de SP, exibe peças mais compradas pelas mães de bebês reborn da região.
Montagem/g1/Arquivo pessoal/Rodrigo Rodrigues
Mulheres grávidas que estão montando o enxoval de seus bebês têm enfrentado uma concorrência inesperada na Vila Sabrina, na Zona Norte de São Paulo. A das “mães” de bebês reborn.
Segundo lojistas, as roupas para recém-nascidos têm se esgotado rapidamente devido à alta procura por peças de mulheres e crianças que querem vestir suas bonecas ultrarrealistas.
O bairro é conhecido pelo comércio popular forte, especialmente de roupas e calçados. O g1 foi a pelo menos três lojas na área e ouviu dos comerciantes que a procura por modelos de roupas mais populares cresceu nos últimos meses.
“Nós somos loja de fábrica e realmente tivemos que aumentar a produção de modelos RN por causa da alta procura. Porque os nossos modelos RN servem nas bonecas e tem muita criança e até mãe e avó de boneca que vem comprar da gente”, contou a gerente de uma das lojas, Luciene Fiuza.
“Vende principalmente depois da saída das escolas e aos sábados. Dois anos atrás, quando essa onda começou, eu achava uma loucura. Mas depois que a coisa cresceu e as vendas também, comecei a achar que é bom para o bolso”, brincou Fiuza.
Luciene Fiuza, Débora Aparecida e Juliana Soares: vendedoras de artigos infantis que atendem mamães reais ou reborn na Vila Sabrina, Zona Norte de São Paulo.
Rodrigo Rodrigues/g1
As peças mais procuradas são as mais baratas. Os mijõezinhos, bodies e camisetinhas, cujos preços direto do fabricante vão de R$ 6 a R$ 20.
A vendedora Débora Aparecida afirmou que a maior venda que fez neste ano para bebês reborn foi uma de R$ 700 em que uma avó comprou até bolsa de passeio para a neta.
“Ela levou um kit bolsa completo, com mamadeira e chupeta, além das roupinhas, porque dizia que a neta estava fascinada pela bebê reborn. Achei engraçado e até meio maluco gastar tanto com uma boneca, mas a comissão foi gorda e para mim está tudo certo”, comentou.
“Mês passado veio uma mulher que gastou quase R$ 300 numa saída de hospital e dizia que era para a boneca dela. Eu fiz é rir por dentro, mas achei ótima a venda”, completou Débora, rindo.
Brinquedo ou suporte emocional? Bebês reborns viram febre nas redes sociais
Uma das grávidas que enfrentou o desabastecimento de peças RN na Vila Sabrina foi a fisioterapeuta Bruna Macedo. Grávida de Martin, ela e a mãe foram atrás das últimas peças do enxoval do bebê e foram surpreendidas.
“Eu queria peças mais neutras, como branca e amarela, e a vendedora disse que não tinha, que havia acabado e estava para chegar. Eu brinquei e disse: ‘Ah, estão nascendo muitos bebês em 2025, né?’. E ela falou: ‘Não, é que aqui é perto de escola, e a criançada vem com a mãe e avó e leva tudo para bebês reborn’. Se chegar tarde na loja, fica sem roupinha mesmo”‘, lembrou.
“Levei até um susto, porque a última coisa que imaginava é perder a concorrência para as bonecas, a essa altura do campeonato”, brincou. “Percebi que é uma onda que talvez entre os adultos tenha diminuído por causa das polêmicas na mídia, os memes, mas para as crianças e adolescentes, não. E elas têm todo o direito de brincar de boneca até quando quiserem”, comentou.
A fisioterapeuta Bruna Macedo, grávida do pequeno Martin, foi uma das grávidas que enfrentou a concorrência dos bebês reborn, na Vila Sabrina, em busca do enxoval do seu filhinho.
Acervo pessoal
Avó reborn
Recém-chegada a uma loja da Avenida João Simão de Castro, a vendedora Juliana Soares estava apenas no seu segundo dia de trabalho como vendedora de acessórios para bebês. Apesar de ainda não ter feito nenhuma venda para as “mamães de reborn”, ela contou ao g1 que já fez compra para as próprias filhas.
“Antigamente, a avó da gente fazia os sapatinhos e roupinhas de crochê para as nossas bonecas. Hoje em dia ninguém tem mais paciência para isso, e eles vêm comprar. Eu mesma já comprei para boneca da minha filha”, contou.
Apesar de ter pago quase R$ 300 numa bebê reborn para a filha, ela disse que percebeu mudanças no comportamento da menina, que tem 12 anos.
“Ela ficava muito no celular, e eu estava aborrecida com isso. Percebi que, com a boneca, ela parou um pouco com o celular. Acho também que criou um pouco mais de empatia e responsabilidade. Vale tudo para a gente tentar tirá-los um pouco do celular”, desabafou.
Vendedoras de loja ‘Irmãos Baby’, na Vila Sabrina, Zona Norte de SP, exibe peças mais compradas pelas mães de bebês reborn da região.
Rodrigo Rodrigues/g1
Nicole Amaral, de 19 anos, também é vendedora em outra loja da Vila Sabrina há quase um ano. Ela contou que, nesses primeiros meses de experiência, já atendeu até mesmo cliente querendo comprar chupeta para si mesmo.
“Atendo bastante ‘mãe’ de boneca, mas as compras nunca passam de R$ 100. Elas compraram mais roupinhas baratinhas RN. Outro dia até apareceu uma aqui querendo comprar chupeta para ela mesma chupar, dizendo que se acalma e relaxa. Cada um faz o que quer da vida. Mas aparece cada uma aqui que, se a gente conta em casa, as pessoas não acreditam”, disse ela.
O que é um bebê reborn?
Artesã de Sorocaba faz bebês reborns hiper-realistas
Um bebê reborn é uma boneca hiper-realista feita à mão. As primeiras bonecas desse tipo surgiram nos anos 90, mas nos últimos tempos ganharam popularidade pelo nível impressionante de detalhes que reproduzem um bebê de verdade.
Algumas têm pele macia e textura realista, pintadas muitas vezes e em várias camadas para simular tons naturais de pele.
Os modelos mais caros, como os de silicone sólido, chegam a custar mais de R$ 2.000.
Entenda como são feitos os bebês reborn, bonecos que podem custar mais de R$ 2 mil
Fonte: g1
