
     Ibovespa registra sexto recorde seguido e fecha acima dos 150 mil pontos
O Ibovespa, principal índice da bolsa de valores brasileira, fechou em alta de 0,61% nesta segunda-feira (3) e superou, pela primeira vez na história, a marca de 150 mil pontos.
Com o resultado, o índice de ações da B3 atingiu sua sexta máxima seguida. Só em 2025, já são 21 recordes de fechamento — puxados pelo cenário de cortes de juros nos Estados Unidos e pela expectativa de redução também na taxa básica brasileira, a Selic.
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Apesar de algumas oscilações, o movimento positivo que ganhou força nas últimas semanas vem se mantendo desde o início do ano: entre janeiro e esta segunda-feira, o Ibovespa acumulou alta de 25%, passando de 118.533 pontos em 3 de janeiro para os atuais 150.454 pontos.
Mas o que explica a disparada da bolsa brasileira? E o que isso significa para a economia do país — e para o seu bolso? O g1 conversou com especialistas para entender. Veja nas perguntas abaixo:
O que está por trás dos sucessivos recordes?
O que significa a marca de 150 mil pontos?
Como a alta do Ibovespa impacta a economia — e o seu bolso?
180 mil pontos? O que esperar à frente
O que está por trás dos sucessivos recordes?
A economista-chefe do PicPay, Ariane Benedito, afirma que o fator decisivo para a sequência de recordes da bolsa brasileira foi a mudança de postura do Federal Reserve (Fed).
Na última quarta-feira (29), o banco central dos EUA reduziu os juros pela segunda vez em 2025, para a faixa de 3,75% a 4% ao ano — o menor nível desde novembro de 2022. Na reunião anterior, de 17 de setembro, o Fed já havia encerrado um período de nove meses sem reduções.
“Com isso, os investidores estrangeiros voltaram a olhar para os mercados emergentes, especialmente para o Brasil, que ainda paga juros reais muito altos”, analisa Benedito.
🔎 Na prática, juros menores nos EUA reduzem o rendimento das Treasuries, os títulos do governo americano, que são vistos como os investimentos mais seguros do mundo. O movimento faz investidores buscarem aplicações mais rentáveis em mercados emergentes. Nesse cenário, o Brasil tem se destacado, favorecendo a bolsa e o real frente ao dólar.
O corte de juros nos EUA contrasta com uma Selic ainda elevada: a taxa básica brasileira está em 15%, o maior nível em quase 20 anos. O Comitê de Política Monetária (Copom) se reunirá nesta terça (4) e quarta-feira (5) para definir a próxima decisão, e a expectativa é de manutenção da taxa.
Gustavo Jesus, sócio da Victrix Capital, afirma que a perspectiva de corte de juros no Brasil em 2026 colabora com a migração de investidores da renda fixa para a variável. “Os mercados já se antecipam a esse movimento”, afirma.
Do ponto de vista das empresas, Ricardo Trevisan, CEO da Gravus Capital, afirma que o Ibovespa foi impulsionado, principalmente, pela alta nas ações de empresas do setor financeiro, com destaque para grandes bancos como Itaú Unibanco, Bradesco, Banco do Brasil e BTG Pactual.
“Esses bancos, juntos, representam cerca de 25% do índice e têm se beneficiado da manutenção da taxa Selic em patamares elevados, que sustenta margens de juros robustas e atrai investidores em busca de dividendos consistentes”, diz Trevisan.
Ariane Benedito, do PicPay, destaca o bom desempenho de commodities como minério de ferro, petróleo e produtos do agronegócio, que fortalecem empresas importantes no Ibovespa. Ela também cita os balanços financeiros positivos de diversas companhias e a desaceleração da inflação.
“Mesmo com o tom fiscal [condução das contas públicas pelo governo] trazendo aversão ao risco, o ambiente de juros estáveis diminui essa preocupação com o futuro e dá mais previsibilidade e confiança para o investidor apostar no curto prazo”, diz.
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O que significa a marca de 150 mil pontos?
Gustavo Jesus, da Victrix Capital, afirma que os 150 mil pontos não têm um significado técnico, mas formam um marco psicológico importante que atrai atenção para a bolsa.
“É um patamar simbólico, que reforça a percepção de recuperação do mercado. Essa alta de 25% no ano surpreendeu grande parte dos investidores, que estavam mais focados em renda fixa no início de 2025”, analisa.
Para Hênio Scheidt, gerente de Produtos da B3, o marco indica que os investidores seguem diversificando e sofisticando suas carteiras, “com a renda variável sendo um componente chave de suas estratégias de investimento”.
“Há uma retomada gradual de investidores locais e internacionais em renda variável na bolsa do Brasil”, diz.
De modo geral, a alta do Ibovespa tem sido impulsionada por um fluxo constante de capital estrangeiro, observa Trevisan, da Gravus Capital. Segundo dados da B3, 58,30% dos recursos aplicados na bolsa brasileira — considerando o mercado como um todo, não apenas o índice — têm origem internacional neste ano.
“O investidor tem sido atraído pelo diferencial de juros reais no Brasil [ou seja, por retornos mais altos que nos EUA] e pela perspectiva de cortes à frente, o que torna o mercado nacional mais competitivo em relação a outras economias emergentes”, afirma Trevisan.
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Como a alta do Ibovespa impacta a economia — e o seu bolso?
Ariane Benedito, economista-chefe do PicPay, explica que o impacto para a população em geral é indireto, mas existe. Ao captar recursos por meio de ações, as empresas costumam investir mais, o que gera empregos e aumenta a arrecadação de impostos, com efeitos positivos na economia.
“Há também uma possível melhora nos salários. Mas o impacto no dia a dia do brasileiro comum é gradual”, diz. Ela destaca ainda que o movimento pode fortalecer o real frente ao dólar, reduzindo os preços das importações e influenciando também os preços ao consumidor.
Hênio Scheidt, da B3, segue a mesma linha. “A confiança dos investidores nas empresas brasileiras incentiva o crescimento econômico, do qual todos — investidores ou não — podem se beneficiar indiretamente”, diz.
Gustavo Jesus, sócio da Victrix Capital, fala em um ciclo virtuoso, que favorece diretamente investidores e empresas, com impactos positivos para a economia do país.
“Quando a bolsa sobe, os investidores que lucram com isso tendem a consumir mais, o que ajuda a movimentar a economia. Além disso, empresas mais valorizadas conseguem captar recursos, ampliar investimentos e gerar empregos, beneficiando o país como um todo”, avalia.
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180 mil pontos? O que esperar à frente
Ricardo Trevisan, CEO da Gravus Capital, vê o cenário com otimismo. Com a expectativa de queda gradual da taxa básica de juros e de um crescimento econômico mais robusto, ele acredita que o Ibovespa pode superar os 170 mil pontos, com potencial para atingir os 180 mil no próximo ano.
“Essa alta seria impulsionada pela recuperação de setores chave como o imobiliário e o varejo, que são altamente sensíveis à redução dos juros e ao aumento do consumo”, afirma.
Benedito, do PicPay, fala em “otimismo moderado” para o fim de 2025. A tendência, diz a economista, é de uma consolidação entre 148 mil a 155 mil pontos até dezembro, conforme as projeções de mercado.
Por outro lado, ela também enxerga um viés positivo para 2026, caso o Federal Reserve mantenha o ciclo de cortes de juros nos EUA e o Brasil consiga preservar as regras do novo arcabouço fiscal — mecanismo criado para controlar o crescimento dos gastos públicos.
Nesse cenário, o índice poderia alcançar os 165 mil pontos, a depender do ânimo dos investidores e da consolidação dos dados econômicos. “Já em um cenário mais otimista, com melhora do fiscal e commodities firmes, há espaço até para 175 mil pontos”, diz.
Gustavo Jesus, da Victrix Capital, adota uma postura mais cautelosa e não arrisca projeções. O economista pondera que há variáveis fora do controle e naturalmente imprevisíveis, como crises e acontecimentos futuros, sejam positivos ou negativos.
“Por isso, a forma mais indicada de investir na bolsa é manter uma alocação de longo prazo, compatível com o perfil de risco. Essa estratégia tende a oferecer retornos superiores aos da renda fixa no longo prazo”, sugere.
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Vista do prédio da B3, Bolsa de valores de São Paulo, localizada na região central da capital paulista, nesta sexta-feira (12). O Ibovespa flertou com os 129 mil pontos na máxima do dia, encerrando aos 128.896,98 pontos, em alta de 0,47% na sessão. Foi o quarto avanço semanal consecutivo para o índice da B3, que sobe agora 4,03% no mês, cedendo ainda 3,94% no ano.
GABRIEL SILVA/ATO PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
Fonte: g1 > Economia
