Polícia Civil de Minas prende servidora pública suspeita desviar armas apreendidas para o crime organizado
A Justiça de Minas Gerais manteve a prisão de Vanessa de Lima Figueiredo, de 44 anos, suspeita de envolvimento no desvio de armas de fogo que estavam armazenadas na 1ª Delegacia do Barreiro, em Belo Horizonte. A decisão foi divulgada nesta terça-feira (11), após audiência de custódia.
Durante a audiência, conduzida pelo juiz Luis Fernando Nigro Correa, Vanessa permaneceu algemada por recomendação da equipe de segurança. Ela estava acompanha pelo advogado de defesa.
O sumiço das cerca de 220 armas de fogo foi descoberto após um suspeito ser flagrado portando um armamento que já havia sido apreendido. A suspeita é que os artefatos vinham sendo subtraídos por ela da unidade aos poucos. (relembre o caso abaixo)
Vanessa é natural da capital mineira. Servidora efetiva do estado, ela foi aprovada em concurso público realizado pela Polícia Civil em 2013 e nomeada para o cargo de analista da instituição em julho do ano seguinte.
Segundo publicações do Diário Oficial do Estado, Vanessa Figueiredo passou por delegacias de Divinópolis, no Centro-Oeste, e também atuou no Departamento de Trânsito De Minas Gerais (Detran-MG). Em 2020, foi transferida para a delegacia do Barreiro.
De acordo com o Portal da Transparência, a srvidora recebeu um salário bruto de R$ 7,5 mil em setembro deste ano.
SAIBA MAIS:
Quem é a servidora presa suspeita de envolvimento no desvio de 220 armas de delegacia de MG
Investigação aponta que servidora desviava armas de delegacia de BH para vender ao Terceiro Comando Puro e a outras facções
Vanessa de Lima Figueiredo
Reprodução
O caso
De acordo com interlocutores ligados à Polícia Civil, a mulher foi flagrada por câmeras de segurança retirando armamentos do local. As imagens, segundo as fontes, estão sob análise da Corregedoria, mas não foram divulgadas. A defesa alega que a medida cautelar de prisão foi desproporcional (leia posicionamento mais abaixo).
As buscas foram realizadas em dois endereços residenciais dela nos bairros Salgado Filho, na região Oeste, e Teixeira Dias, no Barreiro.
Ainda de acordo com esses interlocutores, a mulher havia comprado dois carros de alto padrão e feito procedimentos estéticos com o dinheiro dos crimes. No local da prisão, havia um cofre onde os policiais localizaram invólucros da perícia.
Segundo as investigações, parte das armas foi vendida para organizações criminosas, como o Terceiro Comando Puro (TCP). A mulher foi aprovada em concurso de 2013 da Polícia Civil, onde atuava como analista.
A suspeita foi encaminhada para o Presídio Feminino José Abranches Gonçalves, em Ribeirão das Neves, na Grande BH.
O que diz a defesa
Em entrevista à TV Globo, a defesa da investigada disse que a medida cautelar de prisão foi desproporcional e que nada de ilícito foi encontrado durante o cumprimento dos mandados de busca e apreensão.
“A defesa vai pleitear a liberdade provisória da Vanessa, porque entende não haver qualquer indício concreto no inquérito policial, completamente premeditado, que possa ensejar de fato essa prisão preventiva”, afirmou o advogado Lucas Furtado.
Sobre as imagens, ele sustentou que os vídeos não mostram nenhum armamento com a servidora.
“No inquérito policial que a defesa teve acesso existia alguns vídeos em, data próxima, que a Vanessa entra e sai com a própria bolsa dela, em alguns momentos que são horários fixos, horário de entrada, horário de saída. É o único tipo de gravação que existe. Não foram identificadas armas durante essa movimentação, tão somente a bolsa dela”, completou Furtado.
RELEMBRE:
Esquema foi descoberto após suspeito ser preso com arma que já deveria estar apreendida
Caso é investigado pela Corregedoria da Polícia Civil
O esquema
A prisão ocorreu no contexto da investigação interna que apura o desaparecimento de cerca de 220 armas apreendidas pela corporação.
O caso veio à tona após uma ocorrência registrada em Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, quando policiais identificaram um armamento em poder de um suspeito que já constava como apreendido em sistema da própria instituição.
A partir da inconsistência, foi feita uma checagem do acervo da delegacia, que apontou a ausência de diversos artefatos sob custódia. Segundo a polícia, o material extraviado inclui armas de baixo calibre, muitas delas consideradas obsoletas.
Em vídeo divulgado à imprensa, a Polícia Civil informou que a investigação conduzida pela Corregedoria está em “estágio avançado” e reforçou o compromisso da instituição “com a transparência, a legalidade e o rigor na apuração dos fatos”.
Delegacia de Polícia Civil do Barreiro, onde o caso foi registrado.
Thiago Phillip/TV Globo
Sindicato atribui falhas à ausência de centrais de custódia
O Sindicato dos Servidores da Polícia Civil de Minas Gerais (Sindpol) afirmou que o caso é consequência da falta das Centrais de Cadeia de Custódia no estado. Previstas na Lei nº 13.964, de 2019, o chamado “Pacote Anticrime”, essas unidades deveriam concentrar todos os materiais apreendidos pelas forças de segurança, sob gestão da perícia oficial.
De acordo com o presidente do sindicato, Wemerson Oliveira, a inexistência dessas centrais facilita extravios e dificulta o controle de objetos apreendidos.
“Essas armas não deveriam estar na delegacia. Até hoje a Polícia Civil não liberou a verba para a construção dessa central, que ficaria sob responsabilidade do Instituto de Criminalística”, disse.
A reportagem questionou o Governo de Minas e a Polícia Civil sobre as alegações do sindicato, mas não houve retorno até a última atualização desta reportagem.
Furtos em delegacias são evitáveis, diz Instituto Sou da Paz
Em nota, o Instituto Sou da Paz afirmou que ocorrências de furto de armas, como a registrada na delegacia em BH, são duplamente prejudiciais à população.
“Desperdiça o esforço policial de apreensão dessas armas, no qual são empenhados recursos públicos e muitas vezes expõe policiais a riscos, e ainda fornece armas para a criminalidade vitimizar a população”, disse a entidade.
Segundo o instituto, armas sem vinculação judicial “não têm nenhum motivo para acúmulo em delegacias” e “devem ser encaminhadas para destruição tão logo tenham laudo pericial realizado”. No caso de armas com vinculação judicial, a custódia originalmente é de responsabilidade do judiciário.
“É urgente compreender que a custódia de armas apreendidas deve ser o mais breve possível, com seu encaminhamento para destruição a fim de evitar esse tipo de desvio e custos desnecessários. Ao mesmo tempo, as secretarias de segurança e o Judiciário precisam investir na gestão constante dos depósitos existentes, com acompanhamento dos volumes custodiados, protocolos de acesso controlado e segurança física compatível” afirmou o Sou da Paz.
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Fonte: g1
