Louveira adota IA pioneira no Legislativo, mas especialista alerta para riscos no uso


Câmara Municipal de Louveira (SP)
Reprodução/Google Maps
A Câmara Municipal de Louveira (SP) afirma ser a primeira do país a implantar uma inteligência artificial para apoiar o trabalho legislativo e modernizar os gabinetes. A tecnologia promete reduzir burocracia e agilizar processos, mas um especialista ouvido pelo g1 alerta que o uso exige governança, ética e supervisão humana constante.
O vice-presidente da Câmara, Fábio André de Souza Borriero, afirma que a tecnologia veio para facilitar e tornar mais ágil o trabalho público. “Sabemos que a tecnologia não tem mais volta, né? Não tem como a gente retroceder, então temos que atualizar a cada momento”, diz o vice.
Em 2024, Louveira figurou entre as Câmaras Municipais com maior gasto por cidadão em São Paulo, segundo levantamento do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (TCE-SP). O custo médio por habitante foi de R$ 619,26, o que colocou o município na quinta posição estadual.
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Nesse contexto, o uso de tecnologias passou a ser uma estratégia para acelerar processos e reduzir custos. Para Borriero, é essencial que a modernização mantenha equilíbrio e reflita uma gestão responsável.
“A gente entendeu que realmente tinha necessidade de dar apoio de qualidade e ter um trabalho de excelência para a população. Não podemos deixar é que a máquina tome conta do lado humano. Tem que ter cuidado porque nunca vamos ser substituídos”, comenta.
Na prática
Criada pelo jornalista e especialista em inteligência artificial Eduardo Sona, a ferramenta foi desenvolvida para modernizar a gestão legislativa municipal. O sistema gera automaticamente projetos de lei, moções, requerimentos e ofícios, organiza demandas da população e elabora relatórios de mandato.
Os conteúdos são inseridos pelos próprios servidores e assessores, o que mantém os temas de cada gabinete sempre atualizados.
“Você vai fazer um texto e demora ali horas. Com isso, você pode pedir ajuda para ir dentro do contexto que já sabe, e em minutos, consegue adiantar”, explica Fábio.
Segundo a plataforma, os resultados iniciais do uso da tecnologia em Louveira incluem:
80% dos usuários já demonstraram “alta familiaridade com o sistema”;
A maioria passou a utilizar a tecnologia diariamente;
Os principais benefícios citados foram agilidade, organização e economia de tempo;
As funcionalidades mais valorizadas foram geração automática de proposituras e gestão de demandas do gabinete.
Responsabilidade no uso
O uso de inteligência artificial na gestão pública pode gerar benefícios à população e tornar os processos mais eficientes, afirma Celso Pedroso, professor do Centro de Economia e Administração da PUC-Campinas. Ele ressalta que o impacto positivo depende do propósito e da forma de aplicação da tecnologia.
Para garantir a qualidade das respostas, Pedroso recomenda usar comandos claros e verificar informações em outras fontes, como livros ou sistemas alternativos de IA. “Muita coisa pode sair de contexto”, alerta o especialista.
No setor público, áreas como governança, auditoria, ética e proteção de dados ainda estão em consolidação. Pedroso afirma que é preciso acompanhar de perto a implantação da IA nas câmaras municipais, com atenção às boas práticas e à conformidade.
“O problema é confundir os papéis achando que isso pode resolver tudo, que pode demitir todo mundo. Tem que ter uma equipe culturalmente envolvida nas questões de inteligência artificial e informática, com treinamentos efetivos”, destaca.
O impacto da inteligência artificial no nosso dia a dia – EP 192
‘A inteligência artificial é filha do homem’
Para garantir o uso responsável da inteligência artificial no setor público, Celso Pedroso recomenda a criação de uma política interna de governança, com papéis definidos, como gestor de IA, auditor e equipe de revisão.
Ele também sugere avaliações trimestrais de métricas, auditorias de qualidade e ética nas respostas, além de capacitação contínua e supervisão humana constante.
“A IA tende a ser melhor, mais rápida. Você pode criar um cenário positivo disso, mas também tem consequências que podem ser desastrosas. Deve-se juntar o máximo as pessoas experts no assunto e de testagem. A inteligência artificial é filha do homem”, afirma.
*Estagiárias sob supervisão de Gabriella Ramos.
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Fonte: g1