
Pai confessou ter matado filho autista de 11 anos em João Pessoa; veja detalhes
Davi Piazza Pinto, que confessou à Polícia Civil ter matado o próprio filho autista de 11 anos asfixiado, em João Pessoa, e que alegou ter cometido o crime porque estava endividado e não queria mais pagar a pensão alimentícia, era, recorrentemente, alvo de pedidos da mãe da criança, Aline Lorena, para que ele se aproximasse do filho.
Ao g1, Aline disse que pedia a Davi, com quem foi casada, que participasse mais da vida da criança, e que, para além da pensão, o mais essencial era a presença dele no desenvolvimento do filho. Segundo ela, o pai pagava regularmente a pensão do filho.
“Das últimas vezes ainda falei para ele assim: ‘não era o dinheiro, a questão é a convivência, para o Arthur conviver mais com você’s. Porque eu sou sozinha, eu não tenho ajuda, você tem ajuda da sua mãe. Eles podem estar nos ajudando melhor para o Arthur se aproximar também com os avós. Porque isso é um direito da criança. A gente sempre conversou. Eu falava: ‘você tem que ser mais presente. Não é sobre dinheiro nem nada, é sobre a sua presença’, disse.
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Ela contou que Davi, apesar de não estar presente cotidianamente na vida do filho, ajudava no que podia, seja na questão financeira, seja em momentos que ela precisava de ajuda com questões médicas relacionadas ao filho. Inclusive, após a gravidez, segundo o relato dela, ele também atuou para ajudá-la. Ambos terminaram o relacionamento que mantinham há alguns anos.
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O distanciamento entre pai e filho nos últimos três anos
Arthur, de 11 anos, estava dentro do Espectro Autista e possuía deficiência visual
TV Cabo Branco/Reprodução
Pelo relato da mãe, a relação entre o pai e o filho teve uma ruptura principalmente nos últimos três anos. Anteriormente, mesmo após a separação, ele conseguia manter certa proximidade por inclusive morarem em uma mesma cidade, no caso Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, de onde todos são naturais.
Esse maior distanciamento em questão se deu devido às mudanças para outras cidades e estados que o núcleo passou desde 2022. Ela veio morar com o menino em João Pessoa, ele saiu para morar em Santa Catarina. Ela contou que Davi chegou a se oferecer para cuidar do menino integralmente e para levá-lo consigo para o novo estado.
“A gente não tinha convívio, no entanto, antes dele se mudar ele ainda se ofereceu uma vez. ‘Assim, deixa o Arthur morar comigo, eu levo porque daí a minha mãe me ajuda e tudo mais’. Aí eu parei , eu falei assim, não é o momento ainda”, relatou.
Na época da separação, Aline conta que o responsável por cuidar dos trâmites burocráticos para o estabelecimento do próprio pagamento da pensão foi Davi. Ela conta que nesse período, mesmo com o fim do relacionamento, ele se oferecia a acompanhá-la em consultas e outros afazeres. “Ele me ajudava a levar na consulta. ‘Pode ir comigo, não sei aonde?’, ele me ajudava a fazer. Então ele sempre foi muito proativo”, disse.
Um exemplo utilizado pela mãe de Arthur para demonstrar essa distância entre pai e filho foi a previsão de que ele poderia ficar com o menino em certas datas comemorativas, como no final do ano, mas nunca se interessou por fazer isso.
“E perante a lei, as conciliações, ele tinha, ele podia pegar nas festas de final do ano, essas coisas, no entanto ele não cumpria muitas vezes isso. E a gente sempre conversava sobre isso. A gente sempre conversou”, contou.
Pai não pagou pensão alimentícia integral no último mês, diz mãe
Homem disse que estava endividado e não queria pagar pensão.
Polícia Civil
Apesar de pagar, como Aline disse, regularmente os valores da pensão alimentícia, ela explicou que justamente por ter combinado de reaproximar o filho com Davi ele disse que não conseguiria pagar todo o valor da pensão naquele período. Ela disse que não se opôs, que entendia a situação.
O acordo foi por conta da viagem de Davi para João Pessoa justamente com o intuito de estar mais próximo do filho e iniciar uma nova etapa no relacionamento entre os dois.
“No último mês ele ainda pagou um pouco menos porque ele falou, ‘não, eu tenho que me organizar para comprar a passagem’. Eu falei, ‘não, tudo bem. Se for preciso ajuda pra comprar passagem pra você ver, Arthurzinho, a gente te ajuda’, não tem problema nenhum”, disse.
Conforme a Polícia Civil, a pensão alimentícia da criança custava em torno de R$ 1,8 mil.
A tentativa de aproximação entre pai e filho
Mãe sobre caixão do filho, que foi morto asfixiado pelo pai, em João Pessoa
Karine Tenório/TV Cabo Branco
De acordo com as investigações da Polícia Civil sobre o caso, o suspeito de ter cometido o crime havia viajado de Santa Catarina, onde morava, para a Paraíba, com o argumento de ajudar nos cuidados do filho.
A mãe da criança mora em João Pessoa e está em um novo relacionamento. O pai manteve contato com ela e pediu para se encontrar com o menino, o que aconteceu no bairro de Manaíra, zona leste da capital paraibana.
Ela contou que deixou pronto tudo o que o filho precisaria durante o período em que ficaria com o pai e que pediu para que o homem a avisasse caso a criança apresentasse algum sinal de irritação enquanto eles estivessem juntos.
“Tudo foi muito combinado. A gente conversou, eu sentei com ele. Um dia antes eu expliquei: ‘cara, o Arthur é assim, ele come assim’, eu passei no mercado, comprei o que ele gostaria de comer. Arrumei a roupinha dele, falei: ‘ele vai viajar com tal roupa, tem o fonezinho abafador, como ele é uma criança autista, pode ser que ele se irrite no caminho, mas me avisa, ele tem horário de ir no banheiro, ele tem as coisinhas dele’…”, contou Aline.
Ao g1, Aline afirmou que Davi sabia dar os cuidados especiais que o filho precisava por ser uma pessoa com autismo e também com deficiência visual. Ela diz que há alguns anos o menino também foi diagnosticado com o Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), mas mesmo assim ele era capaz de cuidar.
“Ele sabia das limitações e sabia como cuidar. E assim, o Arthur havia evoluído muito, muita coisa, o Arthur já era mais independente, porque eu sempre tratei de um jeito que ele pudesse viver as alimentações dele com o máximo de independência”, explicou.
Conforme as investigações, Davi levou o corpo até o bairro Colinas do Sul após ter matado a criança e o enterrou nas imediações de uma antiga fábrica abandonada. O corpo foi encontrado dentro de um saco plástico preto, parcialmente coberto por terra, em uma cova rasa.
A relação entre o pai e a mãe
Sobre a relação entre Aline e Davi, ela disse que após a separação e a vinda para João Pessoa não procurava saber da vida dele. Ela disse que não sabia, inclusive, com o que ele trabalhava em Santa Catarina. Ele também não interferia na vida dela.
“Nesse decorrer dos anos, eu nunca me envolvi na vida pessoal dele e nunca deixei que ele se envolvesse na minha vida pessoal (…) E eu nunca soube da vida pessoal dele, como era o trabalho, como eram as coisas. Ele sempre pagou a pensão e nunca me falou nada sobre”, explicou.
No que se refere ao impacto emocional pela perda do filho, Aline desabafou que psicologicamente está precisando de apoio e que tem chorado muito nos últimos tempos, após a morte do menino. Ela cita até que costumava não chorar na frente do filho e que, após o homicídio dele, não faz outra coisa a não ser chorar.
“Comecei uma terapia ontem. E a todo momento eu choro, eu paro. Não tenho nem o que chorar quase. Porque sempre nas nossas batalhas eu conversava com o Arthurzinho e falava assim ‘mamãe é forte pra você, não vou chorar pertinho de você'”, relembrou.
Outro episódio que a mãe recordou foi a última conversa que ela teve com o pai da criança, antes de levá-lo para o pai, em um tom de pedido para a reaproximação entre ambos. Ela disse que um dos argumentos utilizados por ela para fazê-lo se aproximar foi justamente demonstrar como Arthur poderia ajudá-lo também.
“E da última vez que eu falei com o genitor dele, eu falei assim, ‘espero que o Arthur te ensine alguma coisa, assim como ele sempre me ensinou, nesse curto espaço de tempo'”, disse.
Sobre motivações, Aline conta que não entende e não consegue compreender como o pai foi responsável pelo homicídio.
“Sem chão, sem chão, não tem explicação, nada tem explicação pra mim, nada mesmo. E nada justifica”, disse.
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Fonte: g1
