Motoristas relatam horas de espera por socorro e apontam rodovia 'sem estrutura' após caso de carreta no Rodoanel

Motoristas reclamam do atendimento no Rodoanel
O caso da carreta que ficou atravessada no Rodoanel nesta quarta-feira (12), bloqueando a via por cinco horas devido a uma supeita de artefato explosivo no veículo, trouxe à tona queixas antigas sobre a demora no atendimento aos motoristas que precisam de socorro mecânico na via.
Ao longo de dois dias, uma equipe da TV Globo percorreu trechos do anel viário e encontrou caminhoneiros desassistidos, demora no socorro e falta de fiscalização. Eles afirmam que passam horas tentando contato com a concessionária e que aguardam ainda mais tempo pela chegada de um mecânico.
O caminhoneiro Ivanir Landro conta que saiu de Santa Catarina para ir até o Rio Grande do Norte. Horas depois de carregar o caminhão em Embu das Artes, na Grande São Paulo, ficou parado por problemas mecânicos.
“Duas horas no telefone chamando no 0800 e eles não vêm atender. Não tem o que fazer porque não tem como arrumar aqui. Não tem mecânico aqui”, disse.
Não faltam apenas mecânicos no Rodoanel, mas também outros tipos de serviço. O motorista Mauro Reis afirma sentir falta de estrutura na rodovia. “Eu acho que precisava ter uns postos aqui no meio, porque ela é meio deserta mesmo de um pedaço pra cá.”
O caminhão de Mauro quebrou às 2h desta quarta-feira (12). Às 17h, a concessionária e um mecânico já tinham passado para avaliar o problema, mas o profissional precisou ir até Campinas buscar uma peça.
“A concessionária já deu a assistência dela, inclusive pedi pra ela vir de novo pra tirar o caminhão daqui, porque não dá pra mexer aqui”, afirmou.
No começo da manhã desta quarta, enquanto socorriam o motorista da carreta que ficou atravessada no Rodoanel, colegas reclamavam da demora da Polícia Rodoviária. Em vídeo gravado no local, um dos motoristas disse: “Já faz uma hora que chamou a Polícia Rodoviária e nada”.
A cena expõe outro problema do Rodoanel: a falta de fiscalização. Durante cinco horas, a TV Globo percorreu o trecho sul e flagrou diversos veículos passando pelo acostamento. Na alça de acesso da Rodovia Anchieta para o Rodoanel, motoristas entram rapidamente e sem reduzir a velocidade.
Foi nesse ponto que, no último domingo (9), o motorista de um carro perdeu o controle e caiu de um viaduto. Ele e três passageiras morreram. Só uma amiga sobreviveu.
Motoristas relatam horas de espera por socorro e apontam rodovia ‘sem estrutura’ após caso de carreta no Rodoanel
TV Globo
O Rodoanel é dividido em quatro trechos. O Norte ainda está em obras. O Oeste, com 29 quilômetros, é administrado pela CCR. O Sul e o Leste, que juntos somam 105 quilômetros, são operados pela SPMAR.
A SPMAR informou que conta com uma base da Polícia Militar Rodoviária, com 43 viaturas para os dois trechos, além de quatro pontos de atendimento da concessionária. Disse ainda que monitora a rodovia com 110 câmeras e 11 veículos operacionais.
A CCR afirmou que possui dois postos fixos da polícia em seu trecho e 41 câmeras de monitoramento.
Sobre a demora no atendimento do motorista que ficou com o caminhão atravessado no Rodoanel, a Secretaria da Segurança Pública disse que a Polícia Militar Rodoviária atendeu a ocorrência assim que foi chamada pela concessionária.
Já a concessionária SPMar, que administra os trechos sul e leste, disse que um veículo de inspeção chegou ao local oito minutos depois de a central detectar o problema por uma câmera. Também disse que presta o serviço necessário aos usuários.
Obras
As obras do Rodoanel começaram em 1998, com o objetivo de reduzir o fluxo de caminhões dentro da capital.
O projeto teve o desafio de atravessar áreas ambientais que abastecem a Região Metropolitana, exigindo o menor impacto possível.
Para evitar ocupações irregulares e preservar áreas verdes, decidiu-se construir poucas entradas e saídas, o que também explica a ausência de comércios na rodovia e a sensação de insegurança.
O diretor da FGV Cidades, Ciro Birdeman, que colaborou com o projeto nos anos 1990, diz que as regras podem ser atualizadas para permitir novos serviços sem comprometer o meio ambiente.
“Você pode pensar em ter atividades ali. Isso vai movimentar, vai ter gente entrando e saindo, mas regular de tal forma que esses usos protejam mais e, no limite, até dificultem a ocupação no fundo”, afirmou.
Ele defende que a nova concessão considere mudanças: “Pensar na nova concessão, em mudar as regras, gerar receitas acessórias e exigir um atendimento aos caminhoneiros, porque eles não podem ficar à mercê da sua sorte”.
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Reprodução

Fonte: g1