
O alerta da ciência na COP30: limite de 1,5°C está prestes a ser ultrapassado
A COP30 é a primeira Conferência do Clima em que cientistas e negociadores estão trabalhando no mesmo lugar. É nesse espaço que a Sônia Bridi esteve na noite desta segunda-feira (10).
O presidente da COP já disse várias vezes que as decisões tomadas lá devem ser baseadas na ciência. A presença de cientistas do mundo inteiro vai facilitar esse processo. Os cientistas estão promovendo debates, apresentando novos estudos e também estão esclarecendo dúvidas dos negociadores. O pavilhão estava vazio na noite desta segunda-feira (10), mas durante o dia ficou muito movimentado em torno de uma mensagem muito forte: nós não podemos abandonar o limite de aquecimento estabelecido pelo Acordo de Paris, que é de 1,5ºC, e os cientistas explicam por quê.
A instalação é simples, mas no Pavilhão da Ciência Planetária está tudo o que os negociadores precisam saber: é perguntar, e os maiores cientistas do clima no mundo respondem. E a grande questão na largada da COP é um número: 1,5ºC. É o limite de aquecimento acordado em Paris, há dez anos. Mas na semana passada, o secretário-geral da ONU já disse que vamos passar esse limite. E o que isso significa? Pergunta a repórter Sônia Bridi ao diretor do Instituto do Clima de Potsdam.
“Temos ampla evidência de que, se passarmos de 1,5ºC, os extremos – quero dizer, o sofrimento das pessoas com secas, enchentes, ondas de calor, fogo, doenças -, tudo isso aumenta. E com certeza absoluta”, afirma Johan Rockström.
Os cientistas dizem que vamos atingir 1,5ºC nos próximos cinco a dez anos – e continuar aquecendo. É como um carro em alta velocidade: você pisa no freio, mas ele ainda percorre uma distância até parar. O freio nesse caso é reduzir as emissões em 5% ao ano, todos os anos, até zerar. Cada fração de grau importa.
“Cada décimo de grau acima de 1,5ºC leva a mais sofrimento não para milhões, mas para bilhões de pessoas”, diz Johan Rockström.
Pela primeira vez em uma COP, cientistas e negociadores estão trabalhando no mesmo lugar
Jornal Nacional/ Reprodução
O professor Johan Rockström mapeou os 16 pontos de limites planetários. Pontos de não retorno, que, se ultrapassados, romperiam o equilíbrio de todos os sistemas que regulam a vida na Terra:
“Temos muitas evidências científicas de que acima de 15ºC aumenta o risco de cruzar os limites planetários”.
A morte dos corais tropicais já ultrapassou um desses limites, ameaçando um abrigo de vida marinha do qual 200 milhões de pessoas dependem. Acima de 1,5ºC podem colapsar a Amazônia, o degelo da Groenlândia e da Antártica, e as correntes marinhas que regulam o clima.
“Seria como apertar um botão, e não tem volta. A ciência já demonstrou que, cruzando um limite, você dispara uma cadeia de reações, quebrando a estabilidade dos sistemas”, afirma Joham.
O professor Tim Lenton também estuda pontos de não retorno – só que positivos. Um deles, ultrapassamos: energia limpa barata, que torna possível acabar com os combustíveis fósseis, e começar a resfriar o planeta.
“Precisaremos fazer a temperatura voltar para abaixo de 1,5ºC. A gente consegue fazer isso, mas precisamos parar de aquecer e, depois, acelerar soluções baseadas na natureza para remover o excesso de carbono da atmosfera”, afirma Tim Lenton.
Para isso, ele acredita que outro limite positivo está em ação: cada vez mais pessoas recuperando a natureza, fazendo boas escolhas de consumo e pressionando governos por mais ações:
“De baixo para cima, nós, as pessoas, somos cruciais para promover as mudanças que vão evitar esses limites catastróficos”.
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Fonte: g1
