Pesquisa constata que segurança pública é a principal preocupação dos brasileiros

Uma pesquisa constatou que o brasileiro nunca esteve tão preocupado com segurança
Uma pesquisa constatou que o brasileiro nunca esteve tão preocupado com a segurança pública.
Histórias não faltam.
“Dois rapazes numa moto, um deles desceu, o garupa, apontou a arma para mim e para minha amiga, e levou nossos celulares”, diz Maria Gerusa, auxiliar de escritório e técnica de enfermagem.
Cada um procura um jeito de tentar se proteger.
“Celular na mão por nada desse mundo. Eu entro em algum lugar para abrir, para olhar… Mas isso não é Rio. São Paulo, da onde eu venho, está a mesma coisa”, comenta Simone Guedes, pedagoga.
E logo surge alguém para dizer o que o medo ensinou.
“Eu já fui assaltada na rua. Meu filho, na rua da minha casa. E o pub aqui onde a gente está no momento foi arrombado duas vezes em um mês. Durante a madrugada eu fico acordada, trabalhando e monitorando câmeras”, afirma Graziela Weber, moradora de Novo Hamburgo, RS.
O que vem desses relatos se repete pelo país. A violência virou a maior preocupação do brasileiro – e, desde julho, só aumenta. No fim de 2024, era a economia que ocupava esse lugar. Agora, o alerta mudou. É o que aponta uma pesquisa da Quaest.
“No auge da Lava Jato, os brasileiros diziam em pesquisa que a maior preocupação deles era com a corrupção. Em 2022, depois da pandemia, a preocupação dos brasileiros acabou sendo a saúde pública. No auge da eleição de 22 a gente viu a fome e a economia voltarem a aparecer relevantes na cabeça dos brasileiros. A gente está terminando 2025 e chegando em 2026 com nível de preocupação com violência que é histórico. Agora, depois da operação que a gente viu no Rio de Janeiro, esse tema ganhou espaço na opinião”, destaca Felipe Nunes, diretor da Quaest.
A pesquisa — feita dias depois da operação das polícias do Rio nos Complexos da Penha e do Alemão –, também perguntou se as pessoas se sentem seguras ao andar pela própria cidade. Seis em cada dez brasileiros disseram que não, não se sentem seguros. Nas grandes cidades, o temor é ainda maior, mesmo quando não existe uma ameaça visível.
O estudo também comparou as regiões. No Sudeste e no Nordeste a sensação de segurança é menor.
“Um dos dados mais interessantes da pesquisa é a percepção de que o morador do Sudeste e o morador do Nordeste têm níveis parecidos de preocupação em andar na rua, em ser assaltado, em sofrer qualquer tipo de violência. O Sul do Brasil e o Centro-Oeste são uma exceção nesse caso, o que mostra que não é só o nível de renda que explica esse processo”, completa Felipe.
Outro dado aproxima lugares muito diferentes: a porcentagem de quem conhece alguém que teve a casa ou o comércio roubados é a mesma nas cidades pequenas e nas metrópoles. 56% nos municípios com até 20 mil habitantes e os mesmos 56% naqueles com mais de 500 mil moradores.
A psicóloga Taynan Araújo mora na pequena Ilha de Itamaracá, a 40 km do Recife.
“Foram três vezes arrombada minha casa. São casos que mexem com toda a população, paralisa realmente toda uma população.”
Hoje, uma grande tensão do brasileiro ao sair de casa tem nome e cabe no bolso: o celular. A pesquisa perguntou: “Você conhece alguém que teve o celular roubado na região onde mora?”. Mais da metade da população de cidades pequenas e médias respondeu sim. E nos grandes centros, a situação é ainda mais alarmante: 73%.
A universitária Bruna Eckhardt trocou o interior do Rio pela capital há quatros anos. Saiu de Petrópolis para estudar Ciências Políticas. Nunca imaginou que, em tão pouco tempo, precisaria comprar tantos celulares. Foi furtada em 2022. Outra vez em 2023. E mais uma este ano.
“Hoje o celular virou quase uma parte do nosso corpo. Então tem tudo, tem banco, tem foto, lembrança, memória. Eu fiz o boletim de ocorrência, mas não tive resposta”, conta Bruna.
O crime na porta de casa. Três em cada quatro brasileiros dizem ver a presença do tráfico onde vivem. Quase um terço convive com milícias. Para a grande maioria da população o crime organizado cresceu. E 77% afirmam que é um problema nacional — porque atravessa regiões, governos, e exige ação integrada.
“Nós não estamos aqui tratando de uma questão regional. A pesquisa mostra isso com muita clareza. Os brasileiros sabem que esse é um problema do Brasil e que vai ter que ser enfrentado no país inteiro”, diz Felipe Nunes.
Na Câmara dos Deputados, em Brasília, ainda não houve acordo sobre o projeto de lei que trata do combate às facções criminosas. A proposta foi alterada quatro vezes em menos de uma semana. A votação está marcada para terça que vem. Mas o embate entre governo e oposição pode alterar essa data. Especialistas da área de segurança pública criticam a demora. O jurista Gustavo Sampaio Afirma que a polarização política não pode prejudicar a discussão desse tema que é urgente para a sociedade.
“Nesse momento, a polarização significa um retrocesso, ela atrasa o processo legislativo, sobretudo porque a caminhada que nós temos que empreender é de uma união de esforços entre os estados-membros da federação, os 26, o Distrito Federal e a União Federal. Quanto mais demorar o processo legislativo, mais vai demorar a aplicação das políticas públicas de resolução do problema da segurança pública. Quanto mais tempo tardar, mais vidas poderão ser perdidas e maior o sentimento da insegurança em toda a sociedade brasileira.”
Uma pesquisa constatou que o brasileiro nunca esteve tão preocupado com segurança
Reprodução/TV Globo

Fonte: g1