Professora transforma dor da perda em livro que ajuda crianças a falar sobre o luto


Livro Clara Flor escrito pela autora Julieta de Souza de Divinópolis
Julieta de Souza/Divulgação
Neste domingo (2), Dia de Finados, o g1 conta como Julieta de Souza, professora de Divinópolis, transformou a perda da prima de 3 anos em um livro sobre o luto infantil.
Clara morreu em 25 de agosto de 2011, após uma pneumonia bacteriana. Dias depois, os pais da menina pediram que Julieta escrevesse algo para explicar aos colegas da filha, em Carmo do Cajuru, o motivo de ela não voltar mais à escola.
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“Pensei que a partida de uma criança tão linda e inocente deveria atender a um propósito maior. O que há de belo e eterno nessa separação? Pensei na Clara, que adorava brincar entre as flores no quintal da avó. Criei uma metáfora em forma de versos para expressar meu entendimento naquele momento”, contou Julieta.
O texto emocionou a família e os colegas da menina. Para ajudar outras crianças a compreender a perda, os pais decidiram transformar as palavras da prima em um livro. Assim nasceu “Clara Flor”, publicado em 2011 com o apoio deles — e que marcou a estreia literária de Julieta.
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A repercussão surpreendeu. Crianças que ouviram a história começaram a compartilhar as próprias experiências com o luto — a morte de um bichinho, de um avô, de uma tia.
“Percebi que os adultos têm dificuldade em dialogar sobre isso com as crianças. Eu também tinha, e aprendi muito com elas”, lembrou Julieta.
Com o tempo, a obra ultrapassou os muros da escola de Carmo do Cajuru e passou a ser adotada em instituições de Divinópolis e cidades vizinhas. A primeira edição se esgotou e o livro se consolidou como uma referência sensível sobre o tema.
A experiência reforçou um sentimento que acompanhava Julieta desde a infância: o poder que as palavras têm de acolher.
Desde menina, ela se encantava pela escrita — fazia cartas para amigas e guardava pequenos textos em cadernos. Mais tarde, transformou essa paixão em profissão e se tornou professora de Língua Portuguesa. Hoje, ela acredita que a literatura é o seu jeito de curar, ensinar e se conectar com o mundo.
“Foi um processo de muita emoção. Escrever sobre a Clara foi também uma forma de elaborar a dor, de transformar o sofrimento em algo que pudesse acolher outras crianças. Escrever é o meu jeito de conversar com o mundo”, finalizou a professora.
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Fonte: g1