Quem é Lola, 'Serva de Deus' que pode ter se alimentado apenas de hóstia por mais de 60 anos; fenômeno é estudado por pesquisadores em MG


Lola caiu de um pé de jabuticaba e alimentou somente de hóstia por mais de 60 anos
Reprodução
Um novo estudo sobre a vida de Floripes Dornelas de Jesus, a Lola, deve ser concluído até o fim do ano. A religiosa mineira é conhecida por relatos de que ela se alimentou somente de hóstia por mais de 60 anos.
A pesquisa é realizada por pesquisadores do Núcleo de Pesquisa em Espiritualidade e Saúde (Nupes) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e tem como foco a avaliação da inédia, que é o estado de abstinência total ou parcial de alimentos por um período prolongado.
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No caso de Lola, foram mais de cinco décadas sem ingestão de alimentos e líquidos, em um raro fenômeno que intriga a ciência.
“O grande desafio em relação ao caso de inédia, especialmente ao da Lola, é que eles desafiam totalmente o conhecimento que nós possuímos. Primeiro, porque nosso corpo precisa de energia a partir de calorias que ingerimos. Têm também fontes metabólicas, fontes de proteínas, fontes de eletrólitos, vitaminas, etc. Além disso, a necessidade de eliminar excretas. O relato é que ela teria se alimentado apenas de uma hóstia por dia, o que obviamente seria insuficiente”, explicou Alexander Moreira-Almeida, coordenador da pesquisa.
Do acidente ao título de ‘Serva de Deus’
Floripes Dornelas de Jesus ou Lola, como é mais conhecida, nasceu em Mercês em 1911 e morreu em 1999, em Rio Pomba, na Zona da Mata mineira.
Devota católica, ficou paraplégica na adolescência após cair de um pé de jabuticaba. A partir desse acidente, sua vida tomou um rumo extraordinário: relatos afirmam que ela deixou de se alimentar e beber, passando a viver apenas de uma hóstia por mais de seis décadas.
Floripes Dornelas de Jesus, a Lola, viveu acamada por boa parte da vida
Reprodução/Redes Sociais
Esse fenômeno é chamado de inédia eucarística, quando a pessoa sobreviveria exclusivamente pela comunhão. Casos semelhantes foram registrados na história cristã, envolvendo santos como Santa Catarina de Sena, mas o de Lola é um dos mais duradouros já relatados.
Mesmo acamada, Lola transformou sua casa em um ponto de peregrinação. Fiéis buscavam bênçãos e acreditavam em curas atribuídas à sua intercessão. Até hoje, o Recanto da Lola, como é conhecido o sítio onde ela viveu, recebe visitantes de várias cidades de Minas Gerais e do país.
Em 2005, a Igreja Católica reconheceu sua devoção e abriu o processo de beatificação, concedendo-lhe o título de “Serva de Deus”.
Em abril de 2025, o padre Rodney Francisco Reis da Silva foi nomeado como postulador da causa de beatificação, e o próximo passo será a instauração do Tribunal Eclesiástico para a fase de Diocesana, segundo informou a Arquidiocese de Mariana.
Fontes da pesquisa do Nupes
Para o pesquisador Alexander Moreira-Almeida, a pesquisa busca entender se há evidências robustas sobre o fenômeno da inédia, confrontando relatos com possíveis explicações fisiológicas ou psicossomáticas.
Para isso, os pesquisadores estão entrevistando familiares, religiosos e médicos que acompanharam Lola, além de analisar documentos históricos e registros médicos.
Segundo o pesquisador, também estão sendo investigados documentos médicos, exames, relatórios, reportagens, assim como mestrados, dissertações de mestrado, tese de doutorado e artigos científicos publicados sobre a religiosa.
“Há outros estudos da UFJF, mas na área de humanidades, em que investigaram muito o aspecto religioso, espiritual, o impacto que ela teve sobre as pessoas, o que é algo extremamente importante. No nosso ponto de vista, mais do ponto de vista médico, nós estamos investigando esse aspecto fisiológico da inédia”.
Conforme ele, dentro do conhecimento atual da fisiologia, não há mecanismos conhecidos que permitam a sobrevivência sem ingestão calórica, proteica e vitamínica por tanto tempo.
Alexander Moreira-Almeida, Caio Almeida e Julio Chebli são os participantes da pesquisa do Nupes
Arquivo pessoal
“O nosso papel é investigar de modo independente, rigoroso, mas respeitoso e aberto, este fenômeno. Não temos nenhuma conclusão pré-estabelecida, nem de que existe, nem de que não existiu. Estamos tentando buscar o máximo de evidências que possam confirmar ou desconfirmar a experiência. Naturalmente, a Igreja tem os seus processos internos e é possível também que eles utilizem as pesquisas científicas que estão sendo desenvolvidas”.
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Fonte: g1