
Miguel Rosa recebeu medalha de ouro na Olimpíada Nacional de Ciências (ONC) e por detecção de asteroides preliminares no projeto AstroNASA Brasil
Josiane Luzia Carvalho/Arquivo pessoal
O processo de desenvolvimento infantil é sempre um desafio aos pais, ainda mais quando as crianças começam a apresentar sinais mais avançados para a idade. Nessa hora, algumas dicas ajudam os pais a identificar os motivos e até a necessidade de um diagnóstico mais preciso, feito por especialistas.
Um exemplo é o pequeno Miguel Rosa, de 10 anos, diagnosticado autista com Altas Habilidades/Superdotação (AH/SD). O morador de Presidente Prudente (SP), coleciona mais de 160 medalhas olímpicas nacionais e internacionais.
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O feito mais recente do pequeno gênio foi a medalha de ouro na Olimpíada Nacional de Ciências (ONC) e a medalha pela detecção de asteroides preliminares no projeto AstroNASA Brasil.
Realizado em Brasília, no dia 21 de outubro, o evento foi em parceria com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Colaboração Internacional de Busca Astronômica (IASC, sigla em inglês) e National Aeronautics and Space Administration (NASA).
“No início, achávamos que era ‘só autismo’ e um hiperfoco em números, porque o Miguel começou a se destacar muito cedo. Com apenas um ano, ele já fazia contas de adição e subtração de cabeça”, afirma a professora e mãe de Miguel, Josiane Luzia Carvalho, 44 anos.
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Desenvolvimento do pequeno gênio
Aos quatro anos, o menino já sabia toda a tabuada, lia e escrevia sozinho e começou a montar kits de robótica movidos a energia solar, relembra a mãe em entrevista ao g1. “Foi também nessa idade que ele teve a primeira parada cardiorrespiratória, o que acabou atrasando nossa busca por um neurologista para fechar o diagnóstico”.
Devido à situação do Miguel, ele passou a frequentar a escola aos sete anos, momento em que os pais decidiram levá-lo a um neuropediatra. O especialista confirmou o diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista (TEA), além de características cognitivas muito acima da média, a partir de um teste de Quociente de Inteligência (QI).
“O teste confirmou: Altas Habilidades/Superdotação. Desde então, o Miguel faz acompanhamento multidisciplinar e vem evoluindo de forma impressionante, passou do nível 2 para o nível 1 do espectro e, com os estímulos certos, vem potencializando e desenvolvendo cada vez mais suas habilidades”, destaca Josiane Luzia.
Miguel Rosa, de 10 anos, diagnosticado autista com Altas Habilidades/Superdotação (AH/SD)
Josiane Luzia Carvalho/Arquivo pessoal
A neuropsicóloga Aline Tanaka, reforça alguns sinais que os pais podem identificar no início para saber se o filho é um “gênio”: “Quando a criança aprende sozinha certas coisas antes da idade esperada (leitura, números ou lógica); mostra criatividade e imaginação fora do comum; se entedia com tarefas repetitivas ou superficiais e gosta de conversar com adultos ou crianças mais velhas”.
“Ao perceber esses sinais, é indicado procurar um neuropsicológico para avaliação de altas habilidades/superdotação, para investigar o perfil cognitivo e emocional”, pontua Aline.
Criança superdotada, adulto superdotado?
Uma criança superdotada pode facilmente ser um adulto superdotado, como ocorre geralmente, destaca a neuropsicóloga. “Porque é uma característica cognitiva estável. No entanto, o desenvolvimento pleno depende de estímulo e apoio”.
Sem incentivo, reconhecimento ou desafios adequados, a criança pode desmotivar e subaproveitar seu potencial, o que é chamado de sub-rendimento escolar em superdotados. “Muitas crianças superdotadas não se destacam na escola, algumas até têm baixo rendimento por desmotivação”, reforça Aline Tanaka.
Segundo a neuropsicóloga, apenas 2% a 5% da população apresenta superdotação. “Superdotados não precisam ser ‘gênios em tudo, alguns têm talentos específicos (por exemplo, apenas em artes ou raciocínio lógico)”.
O pequeno prodígio Miguel Rosa
Josiane Luzia Carvalho/Arquivo pessoal
A neurologista recomenda algumas atitudes aos pais e responsáveis para colaborar no desenvolvimento do filho com características de superdotação:
Ambiente escolar enriquecido: com desafios cognitivos, projetos, pesquisas, olimpíadas do conhecimento;
Liberdade criativa: permitir que explore interesses próprios;
Apoio emocional: pois podem se sentir diferentes ou isoladas;
Evitar sobrecarga: superdotados também precisam brincar, descansar e socializar;
Parceria família/escola: para equilibrar estímulos e suporte emocional.
Atitudes como esta foram feitas pela Josiane Luzia e incentivaram o Miguel a se desenvolver cada vez mais. “Cada avanço, cada descoberta e cada sorriso são vitórias imensas. Ver o Miguel superar desafios, crescer e inspirar outras crianças é algo indescritível”, destaca a mãe.
“Mais do que os prêmios, o que me emociona é ver que apesar da pouca idade, Miguel fala com orgulho sobre ser autista e ter dupla excepcionalidade. Ele nunca teve vergonha do seu diagnóstico, ao contrário, faz questão de mostrar que o autismo faz parte de quem ele é e que isso não o limita, apenas o torna único”.
Miguel Rosa, de 10 anos, diagnosticado autista com Altas Habilidades/Superdotação (AH/SD)
Josiane Luzia Carvalho/Arquivo pessoal
Incentivo familiar
Além das medalhas, o pequeno prodígio também já teve o reconhecimento no projeto AstroNASA Brasil Caça-Asteróides, com 91 descobertas preliminares e 7 provisórias; título de Sócio Mirim na Associação dos Engenheiros do ITA (AEITA) 2022, além de ter participado no quadro Pequenos Gênios 2025, no Domingão com Huck.
“O sonho do Miguel é estudar no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e se tornar engenheiro aeroespacial. Ele quer projetar foguetes, sondas e tecnologias sustentáveis que ajudem o ser humano a explorar o universo com responsabilidade”, continua a mãe.
Juliany Zanuto, especialista em Neuropsicologia pela Unoeste e em Neurociências e Comportamento (UNESC), também destaca alguns pontos socioemocionais importantes que podem influenciar no desenvolvimento infantil de uma criança prodígio.
“Crianças superdotadas podem enfrentar uma série de desafios que nem sempre são percebidos de imediato, justamente porque se espera que, por apresentarem habilidades acima da média, tudo seja mais fácil para elas, mas não é bem assim”, afirma a especialista.
Miguel Rosa conquistou diversas oportunidades a partir das suas altas habilidades cognitivas
Josiane Luzia Carvalho/Arquivo pessoal
Dificuldades socioemocionais
Entre as dificuldades mais comuns estão os desajustes emocionais e sociais, que ocorrem porque a criança pode pensar e perceber o mundo de forma muito diferente dos colegas da mesma idade.
Outro desafio frequente é o chamado desenvolvimento assincrônico, quando o avanço intelectual não acompanha o desenvolvimento emocional ou motor, conforme Juliany.
“A criança pode ter raciocínio de um adolescente, mas maturidade emocional típica da idade cronológica, gerando conflitos internos e interpessoais. Por isso, o acompanhamento psicológico e educacional é essencial”, continua.
Em todas as fases da vida de uma pessoa superdotada, há um ponto em comum: a intensidade emocional e cognitiva, destaca a especialista.
“Pessoas com altas habilidades costumam sentir, pensar e perceber o mundo de forma mais profunda, o que é uma grande potência, mas também exige autoconhecimento e suporte psicológico para que se torne uma fonte de realização, e não de sofrimento”.
Miguel Rosa, de 10 anos, diagnosticado autista com Altas Habilidades/Superdotação (AH/SD)
Josiane Luzia Carvalho/Arquivo pessoal
Situações comuns em cada fase da vida
Na infância, é comum que essas crianças demonstrem grande curiosidade, pensamento acelerado, vocabulário avançado e alta sensibilidade emocional. Ao mesmo tempo, podem apresentar frustração fácil diante de erros, impaciência com regras ou dificuldade em se ajustar a atividades repetitivas e pouco desafiadoras.
“Quando não compreendidas, podem parecer ‘mandonas’, dispersas ou até desinteressadas (o que, na verdade, reflete um descompasso entre o potencial e o contexto que as cerca)”, diz Juliany Zanuto.
Na adolescência, essa diferença tende a se acentuar. É também uma fase em que podem surgir quadros de ansiedade e depressão, especialmente quando o talento se transforma em pressão por desempenho ou perfeição.
Miguel Rosa, à esq., Ana Beatriz e Lucas, participantes do quadro Pequenos Gênios 2025, no Domingão com o Huck
Reprodução
“O jovem superdotado costuma refletir de forma profunda sobre temas existenciais, éticos ou sociais, o que pode gerar angústias intensas, crises de identidade e sentimentos de solidão. Muitos se sentem deslocados dos pares, têm dificuldade em encontrar grupos com interesses semelhantes ou vivem uma autocrítica constante”, continua.
Enquanto na fase adulta, o impacto da superdotação depende de como o potencial foi reconhecido e acolhido ao longo do tempo. Adultos que tiveram apoio emocional e oportunidades adequadas tendem a canalizar suas habilidades de forma produtiva e satisfatória.
“Já aqueles que cresceram sem reconhecimento, ou enfrentando incompreensão e expectativas excessivas, podem desenvolver baixa autoestima, dificuldade em lidar com frustrações, autossabotagem e até sofrimento psíquico relacionado à sensação de não pertencer”, completa a especialista.
Certificados e medalhas colecionados por Miguel Rosa, de 10 anos, morador de Presidente Prudente (SP)
Josiane Luzia Carvalho/Arquivo pessoal
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Fonte: g1
