Técnica tentou pedir ajuda antes de morrer após acidente no AC, mas celular estava sem sinal: 'Tragédia'


Último registro mostra Rakel Muniz passando por uma rotatória da Via Verde, em Rio Branco
A técnica de enfermagem Rakel Cristina Muniz de Lima, de 49 anos, que foi encontrada morta na tarde da última segunda-feira (3) na Via Verde, em Rio Branco, tentou enviar áudios à família pedindo ajuda após sofrer um acidente de trânsito. Porém, as mensagens não chegaram, já que o aparelho estava sem rede.
A informação foi confirmada ao g1 pela filha da vítima, a estudante universitária Marina Rafaela Muniz de Lima Oliveira, de 26 anos.
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À reportagem, ela contou que após Rakel ser encontrada, recebeu o celular da mãe. Ao mexer no aparelho, percebeu que tinha mensagens sem ser enviadas e a tela, assim que ela abriu, estava pronta para fazer ligações.
“Eles me entregaram a bolsa dela com os documentos e o celular. Aí, quando eu saí da Via Verde, eu tive que ir para a delegacia e fazer B.O para poder liberar o corpo no IML. Quando estávamos lá, começou a chegar os áudios. Chegou primeiro a localização que ela tinha me enviado. Depois de um tempo, chegou o áudio. Para o celular do meu esposo ela também mandou áudios”, detalhou ela.
Marina explicou que a família tentou contato com Rakel por muitas vezes, mas eles não conseguiam encontrá-la e nem manter contato.
“A gente achava que o celular dela tinha desligado ou até mesmo que ela tivesse sido assaltada, porque a gente não tava conseguindo falar com ela e minha mãe nunca foi de ficar com o celular desligado. Ela tentou muito pedir ajuda. Enviou áudio para minha irmã, para uma amiga dela, para o namorado da minha irmã, fora as outras pessoas que eu não consegui ver pelo celular”, lamentou.
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Rakel com a família (esq Pedro, filho mais novo, no meio Marina com o esposo e o filho, Rakel e dir Eduarda, filha mais nova
Arquivo pessoal
Procura
Após o desaparecimento de Rakel, foram feitos grupos da família em aplicativos de conversas onde compartilhavam a procura pela técnica de enfermagem.
“A gente encaminhou os áudios [dela pedindo ajuda] no grupo que [fizemos] e tinham cerca de 46 pessoas. Tinha irmão, sobrinhos, primos. A gente acha que alguém de lá deve ter encaminhado para outra pessoa, só para dar notícia de que ela tinha pedido socorro. E aí o áudio foi tomando uma proporção muito grande e foi se espalhando”, disse ela.
Ela lamentou que os áudios da mãe tenham vazado, já que não houve o consentimento dos familiares para tal ato, e pontuou que irá buscar reparação judicial.
Contudo, Marina permitiu que o g1 descrevesse o que Rakel fala em um dos áudios vazados. Com a voz debilitada, a técnica em enfermagem disse:
— “Eu vou morrer aqui, eu vou morrer aqui. Desde ontem a noite que eu estou aqui, presa aqui no mato. Chama o Samu, eu sofri um acidente ontem, eu tô presa aqui no mato ainda, eu não sei onde é que eu tô”.
Mulher saiu do condomínio sem avisar a ninguém que estava indo embora
Hipóteses
Em meio à busca por reparação à imagem da mãe, a estudante tenta entender ao certo o que ocorreu enquanto Rakel trafegava de moto no trecho da rodovia, quando voltava para casa após um atendimento a uma cliente, já que ela também era manicure. A filha escartou a possibilidade de mal súbito.
“A gente acha que ela não enxergou quebra-mola, porque até eu já bati várias vezes com o meu carro no quebra-mola que só faltou arrancar pedaço […] eu não sei se ela vinha em alta velocidade ou não, mas ela deve ter batido, perdido o controle e caído no mato. Foi realmente uma tragédia”, disse.
Segundo ela, um médico legista que atendeu a mãe viu que, externamente, Rakel não tinha nenhum hematoma. No entanto, após os exames cadavéricos, constataram que ela tinha costelas quebradas, fraturas no baço e hematoma nos rins. O que ocasionou a morte dela foi hemorragia interna.
“Eu perguntei pro médico se, mesmo com essa hemorragia, ela não conseguiria se mexer. Ele disse que era muito improvável porque a costela quebrada estava perfurando o baço. Então ela ficaria ali sem ar e não conseguiria se movimentar porque estava machucando”, frisou.
Segundo a irmã, ela não apresentava nenhum sinal de que pudesse estar passando por problemas pessoais antes do óbito
Arquivo pessoal
Dor
Rakel foi professora de curso técnico por muitos anos, depois trabalhou no Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), além de hospitais. Porém, a filha contou que na maior parte da vida, a mãe sustentava a família fazendo unha, depilação e massagem. Com isto, conseguiu um emprego como gerente na clínica da amiga dela e ainda continuou fazendo unhas pra ter uma renda extra.
O enterro dela, que deixa órfãos Marina, de 26 anos, Pedro, de 20, e Eduarda, de 17, aconteceu na tarde da última terça-feira (4). Os três foram criados somente por ela desde a infância.
“Estamos sem conseguir digerir nada direito, só engolindo mesmo alguma coisa para não desmaiar de fome, mas tá sendo bem difícil mesmo […] ela demonstrava o amor dela com atitudes: fazendo uma comida, pagando alguma coisa. Meus irmãos dependiam dela para tudo. Minha mãe era nossa base”, finalizou.
Corpo de Rakel Muniz estava caído às margens da Via Verde, em Rio Branco
Pedro Marcelo/Rede Amazônica Acre
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Fonte: g1