Olá, aqui quem escreve é Roberto Peixoto, repórter de Meio Ambiente no g1. Este é o Termômetro da COP30, edição #DIA 4, um boletim com o essencial que você precisa saber sobre a 30ª Conferência do Clima da ONU.
Eu vou explicar para você, em 7 tópicos, como foi a quarta-feira em Belém. Entre os destaques eu conto que a capital paraense venceu o desafio de organizar o evento e a COP30 virou a segunda maior da história.
Vou falar também por que observadores classificaram como “estranha” uma reunião que discutia dinheiro e comércio. E ainda explico como uma “capivara gigante” acabou virando atração da barqueata que navegou nas águas da Baía do Guajará.
1 – Em alta X em baixa
EM ALTA: 🌍 A COP30 já é a segunda maior conferência do clima de todos os tempos, com mais de 56 mil participantes registrados de forma presencial. O levantamento é do site britânico Carbon Brief, especializado em dados e análises sobre política climática. O encontro tem 193 países e a União Europeia e fica atrás apenas da COP28, em Dubai. O Brasil lidera as delegações, seguido por China, Nigéria e Indonésia.
EM BAIXA: 🛢️Apesar da fala de Lula sobre a necessidade de um novo mapa do caminho para a transição dos combustíveis fósseis (relembre o termo no Termômetro do dia #1), o tema não está diretamente em debate na COP30. O discurso empolgou, mas não virou debate oficial, e ainda enfrenta resistência de dezenas de países. Pra completar, o foco do Brasil em “combustíveis sustentáveis” na Cúpula dos Líderes gerou desconfiança entre especialistas, que veem o risco de trocar um problema por outro se a transição não for realmente limpa.
“Isso não é um item da agenda, não está no momento sendo algo que foi levantado durante a COP. O presidente Lula colocou esse assunto no centro de suas preocupações porque é algo que foi acordado dentro do Brasil e que colocamos na nossa NDC”, afirmou o embaixador André Corrêa do Lago, presidente da COP30.
📝ENTENDA: As NDCs são as metas dos países, o o principal instrumento do Acordo de Paris para enfrentar a crise climática. A rodada atual – chamada de NDCs 3.0 – pode ser a última chance real de manter vivo o objetivo de limitar o aumento da temperatura global a 1,5 °C.
2 – Brisa de esperança: expansão das renováveis aperta o cerco aos fósseis
Saiu o novo relatório da Agência Internacional de Energia, e ele confirma o que a gente já vê no mundo real: a energia limpa está avançando em ritmo histórico.
A previsão é que, só nos próximos cinco anos, o planeta construa mais projetos de energia solar e eólica do que em todo o período dos últimos quarenta. Segundo a IEA, esse crescimento pode atender quase toda a nova demanda global por eletricidade, que deve subir 40% até 2035, puxada pelo aumento de carros elétricos, aparelhos de refrigeração e data centers.
Em alguns países, como China e Índia, a energia solar já é inclusive a principal fonte de novas instalações.
O relatório também fala em um “renascimento” da energia nuclear, puxado pela busca de grandes empresas de tecnologia por fontes estáveis e de baixo carbono.
⚠️Mas nem tudo é consenso. A IEA voltou a incluir um cenário mais cauteloso, que imagina o que aconteceria se os países não adotassem novas políticas climáticas. Nesse caso, o uso de petróleo e gás continuaria crescendo por décadas.
Por outro lado, o documento reforça uma ideia central: o declínio dos combustíveis fósseis já começou e o desafio agora é garantir que essa mudança aconteça rápido o bastante para manter viva a meta de 1,5°C.
“O relatório mostra que ainda há uma escolha: é possível evitar o pior da crise climática se os governos defenderem o limite de 1,5°C e concordarem com um plano justo para eliminar os combustíveis fósseis”, afirma Kaisa Kosonen, assessora sênior de políticas do Greenpeace Nórdico
O mundo pode abandonar os combustíveis fósseis? Entenda os argumentos nesse VÍDEO
Turbinas de energia eólica são vistas em frente a usina a carvão na Alemanha, em foto de arquivo.
Ina Fassbender/Reuters
3 – Traduz aí, g1
O QUE É ADAPTAÇÃO? O presidente da COP30, André Corrêa do Lago, disse à GloboNews que fazer o mundo entender que “a adaptação virou uma prioridade” é algo essencial. O tema ganhou força nas negociações em Belém.
Adaptação é o conjunto de ações para enfrentar os impactos das mudanças climáticas que já estão em curso, como proteger cidades contra enchentes, garantir água em períodos de seca e fortalecer sistemas de saúde diante de ondas de calor. Diferente da mitigação, que busca reduzir emissões, a adaptação trata de lidar com as consequências.
Na COP30, o debate gira em torno do palavrão “Marco UAE–Belém para Resiliência Climática Global”, que vai definir os indicadores do Objetivo Global de Adaptação (GGA). São cerca de cem critérios, que envolvem acesso a financiamento, tecnologia e dados sobre populações mais vulneráveis.
As discussões, porém, avançam lentamente. Alguns países defendem metas mais ambiciosas e alertam que, sem recursos previsíveis, o sistema pode não sair do papel.
4 – Pergunta do dia: e os itens fora da agenda oficial?
Na quarta (12), a COP30 tinha que resolver o destino de quatro temas que ficaram fora da agenda formal da cúpula.
São assuntos importantes, mas complicados: financiamento climático (quem paga a conta da crise), comércio internacional (como regras de mercado afetam o clima), lacuna de ambição (o quanto as metas atuais ainda são insuficientes) e relatórios de implementação (como cada país mostra o que fez ou não fez).
Para evitar a briga de pauta, a presidência brasileira colocou tudo em consultas separadas. André Corrêa do Lago disse que as conversas foram tão construtivas que os países pediram para continuar, e uma nova plenária no sábado (15) deve trazer um balanço.
Nos bastidores, porém, o clima foi bem diferente. Uma observadora descreveu ao g1 a reunião como “estranha” e sem consenso, com travas especialmente no financiamento e nas medidas comerciais.
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5 – Fóssil do Dia
Manifestantes anunciam o “Fóssil do Dia” para o Brasil durante a COP23, em Bonn, na Alemanha, em 16 de novembro de 2017. Na época, o país foi criticado por propor subsídios bilionários à exploração de petróleo na camada do pré-sal.
John Englart
O Fóssil do Dia de quarta foi para o Reino Unido. O prêmio, dado por organizações da sociedade civil, vai para o país que mais atrapalhou as negociações climáticas do dia.
Durante um debate sobre transição justa, a maioria dos países, incluindo o G77 + China (que reúne mais de 100 nações, inclusive o Brasil) defendeu criar um mecanismo global para apoiar economias em desenvolvimento.
Mas o Reino Unido foi na direção oposta e disse que isso não era necessário, alegando que a ONU já tem estruturas suficientes.
📝ENTENDA: A reação foi imediata: para muitos, a fala soou como ignorar as necessidades dos países mais vulneráveis, justamente num debate que trata de não deixar ninguém para trás. Por isso, os britânicos acabaram levando o “troféu” do dia.
🦖 O “Fóssil do dia” é um “prêmio” é simbólico e irônico, concedido uma vez por dia durante as conferências climáticas da ONU.
6 – Você precisa assistir
Empresa brasileira une tecnologia e natureza para restaurar florestas
No vídeo acima, a Júlia Carvalho conta que a brasileira re.green venceu uma das categorias do Earthshot Prize 2025, prêmio criado pelo príncipe William para destacar soluções ambientais pelo mundo.
A empresa usa IA, satélites e conhecimento da floresta para recuperar áreas da Amazônia e da Mata Atlântica. A meta é grande: restaurar 1 milhão de hectares. Desde 2021, já são 6 milhões de mudas cultivadas, e eles tem planos de chegar a 65 milhões até 2032.
Hoje, a re.green trabalha em 34 mil hectares em quatro estados e monitora tudo de perto para garantir que a floresta volte a se regenerar.
“Entendemos que para conseguir restabelecer todos os processos ecossistêmicos e recuperar uma floresta resiliente, é fundamental que as plantas escolhidas sejam parte natural do bioma da região”, afirma a empresa.
7 – Além da imagem
Barqueata da Cúpula dos Povos leva mais de 200 embarcações à Baía do Guajará durante a 30ª Conferência das Partes (COP30).
Hermes Caruzo/COP30
MAIS DO QUE UMA FOTO: Mais de 200 embarcações ocuparam a Baía do Guajará na manhã da última quarta, em Belém, em um protesto que abriu a Cúpula dos Povos, evento paralelo à COP30. Cerca de 5 mil pessoas de 60 países participaram da barqueata, que cobrou justiça climática e denunciou o avanço de grandes obras e do agronegócio sobre territórios tradicionais.
O percurso saiu da UFPA e seguiu até a Vila da Barca, uma das maiores comunidades de palafitas da América Latina, localizada na periferia da cidade. Entre os barcos, estavam lideranças como o cacique Raoni Metuktire e Alessandra Korap Munduruku. Um grupo de organizações ambientais também levou uma capivara inflável. Para os organizadores, foi um “manifesto das águas” em defesa da Amazônia.
Saiba mais aqui sobre a barqueata pela justiça climática
Amanhã, acompanhe mais um TERMÔMETRO DA COP30.
Até lá!
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Fonte: g1
