
Regiane e o marido na saída da maternidade após o nascimento de Laryssa (à esq.) e ela e a filha grávida (à dir.)
Arquivo Pessoal
Aos 37 anos, ela será avó, mas continua escrevendo capítulos intensos da própria novela. Regiane Aparecida de Sousa engravidou aos 16, em Praia Grande (SP), e agora vê a filha repetir sua história. A trajetória dela lembra a da personagem Gerluce Maria das Graças (Sophie Charlotte), da novela “Três Graças”, que também enfrenta a maternidade precoce e seus desdobramentos.
“Minha história, de fato, é uma novela. Acho que [se fosse] um livro, já teríamos uma trilogia”, disse.
O namoro de três meses com Ademir Souza Santos, hoje marido, resultou na gravidez de Laryssa, de 20 anos, que será mãe de Pablo. Na contramão das estatísticas, Regiane se formou, construiu carreira, comprou casa e carro, e criou a filha com apoio do marido e da sogra.
Anos depois, o casal decidiu ter o segundo filho: Lucas, que hoje tem 6 anos.
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Gravidez aos 16 anos
A primeira pessoa a saber da gravidez de Regiane foi a irmã mais velha, que na época tinha 17 anos. Pouco depois, a mãe levou a adolescente a uma consulta com ginecologista em um posto de saúde, após ela contar que havia tido a primeira relação sexual com Ademir.
Regiane comentou com o namorado que estava com a menstruação atrasada, e ele comprou um teste de farmácia. Com medo do resultado, ela demorou para fazer o exame. No dia da consulta, realizou o teste em casa e descobriu que estava grávida.
“Foi um grande susto, mas a única coisa que eu pensava era em não parar de estudar porque aí, mais do que nunca, eu queria estudar para ser uma boa mãe, para dar uma boa vida para minha filha, para que minha filha não passasse pelas situações que eu tinha passado ali com meus pais”.
Virando adulta aos 16
Regiane ‘virou adulta’ aos 16 anos após engravidar da filha, mas isso não a impediu de realizar os sonhos
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Quando Laryssa nasceu, Regiane estava no 3º ano do Ensino Médio. Com ajuda da sogra, que cuidava da bebê e recebia o leite tirado na bombinha, ela concluiu os estudos e foi reconhecida como melhor aluna da turma.
Além de estudar, trabalhava em uma farmácia e usava o salário para montar o enxoval. Morou dois anos com a sogra enquanto construía a própria casa, comprando materiais com o salário mínimo.
“O meu sogro tinha um terreno em construção, então ele tinha construído a casa dele junto com o meu marido e aí a gente combinou da outra parte do terreno eu e o meu marido seguirmos construindo a nossa casa.
Eu cheguei a morar com a minha sogra por dois anos enquanto a gente ia comprando material. Era tudo muito ali na ponta do lápis, salário mínimo. Esse dinheiro aqui é para comprar fralda, esse aqui é para comprar leite, esse aqui é para comprar cimento, esse aqui para comprar areia e assim a gente foi fazendo a nossa casinha”, contou.
Nascida com luxação no quadril, Regiane se inscreveu em uma vaga para pessoas com deficiência (PCD) em uma multinacional de Tecnologia da Informação (TI) na capital paulista. Foi aprovada, largou a farmácia e conseguiu bolsa integral para cursar Sistema de Informação.
“Eu tinha muito isso, eu não queria ser um número dentro da cota, sabe? Eu tinha preconceito comigo mesma de falar assim ‘ah, estou ali porque sou PCD’. Não queria esse rótulo, até porque eu já tinha tido experiência na farmácia que não tinha sido tão boa em relação a esse tema”, explicou.
Batalhas e conquistas
Regiane e a filha Laryssa em frente à casa da família, em Praia Grande, durante a construção
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O marido cuidava da filha enquanto ela trabalhava em São Paulo e estudava à noite. Às vezes, ele levava pão com mortadela para que ela não fosse à aula sem comer. A rotina durou quatro anos.
“Eu ia para Alphaville, então eu saía de casa às 5h30, levantava às 4h30 e chegava meia-noite.
Estava focada em dar o melhor para minha filha, sabia que era bom para ela, eu pensava: ‘não adianta eu ter tempo para ela e não ter qualidade nesse tempo’.
Esses quatro anos de faculdade eu realmente tive pouco tempo para ela, os finais de semana eram integrais para ela, mas na semana era muito corrido, mas eu queria que ela tivesse um bom exemplo”, disse.
A dedicação nos estudos e na carreira fez com que Regiane fosse promovida na empresa em que trabalha há 16 anos, ao cargo de consultora, responsável pela logística entre pessoas e demandas dentro da multinacional.
Após adiar o sonho do segundo filho por 13 anos, teve Lucas, de 6.
Regiane com o marido e os dois filhos
Arquivo Pessoal
Saindo do protagonismo
Há cinco meses, Regiane foi surpreendida com a notícia de que será avó. Laryssa, que trabalha como jovem aprendiz em uma empresa de logística no Porto de Santos, não se formou na faculdade, o que deixa a consultora preocupada.
“Confesso que estou em um momento de adaptação, de enxergar que não depende tudo de mim.
Eu sempre fui muito protagonista, tomei as frentes de tudo e, dessa vez, eu estou tendo que ser a espectadora da vida dela, sem poder tomar as rédeas de toda a situação.
Estou com 37 anos e serei avó de um garotinho. Minha filha está esperando um menininho, e eu e meu marido, a gente está assistindo um pouquinho da nossa história acontecer com ela.
Tentando dar todo o apoio, todo o respaldo, sem assumir totalmente a responsabilidade para que ela amadureça também”.
Ela disse que ainda está absorvendo a informação e que não entendeu o sentimento:
“Me vejo um pouco no lugar dela, vem alguns gatilhos ali da minha gravidez, da sensação de ter cometido um crime, da sensação de estar fazendo alguma coisa errada e são coisas que não quero para ela, então acabo tomando para mim. Tem a preocupação com o futuro dela, estava fazendo uma faculdade e trancou, mas aí penso que nem tudo que sonhei para mim e para ela vai ser o mesmo sonho que ela tem”, disse.
Laryssa e o pai da criança não estão juntos. Regiane espera que a filha continue morando com os pais após o nascimento de Pablo. A família já planeja adaptar o quarto para receber o bebê.
Retrospectiva
Olhando para trás, Regiane comemora o reconhecimento pelo esforço que fez para dar um futuro melhor à filha. Ela foi alvo de bullying por causa da luxação no quadril e enfrentou críticas e autocobrança durante a gravidez na adolescência, com medo de decepcionar os familiares.
“Olho para tudo que construí e penso em quantas vezes eu tive medo de envergonhar os meus pais, os meus tios, os meus avós e hoje vejo que eles dão muito valor, reconhecem muito meu esforço. Tenho um tio que admiro muito que ele fala que tem muito orgulho de mim, então eu me orgulho quando eu escuto isso porque aquela menina que achou que era uma vergonha, hoje é motivo de orgulho para alguém”, finalizou.
Regiane e o marido estão juntos há 21 anos
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Três Graças
Com origem humilde e marcada pelo sobrenome Maria das Graças, três gerações de mulheres enfrentam o mesmo destino em “Três Graças”, novela das 21h da TV Globo. Gerluce (Sophie Charlotte), sua mãe Lígia (Dira Paes) e a filha Joélly (Alana Cabral) vivem os desafios da maternidade solo na adolescência, em meio a um cenário de vulnerabilidade social.
Lígia criou a filha sem apoio de Joaquim (Marcos Palmeira), que nunca quis assumir a paternidade. Anos depois, Gerluce se envolve com Jorginho Ninja (Juliano Cazarré), ex-chefe da facção criminosa da Chacrinha, comunidade onde a família mora. Da relação nasceu Joélly, criada pela mãe e pela avó, já que o pai está preso há anos.
A trama ganha força logo nos primeiros capítulos, quando Joélly, aos 15 anos, descobre que está grávida. O ciclo se repete, e a novela mergulha nas consequências emocionais, sociais e familiares da maternidade precoce.
Renata Ceribelli acompanha os bastidores de ‘Três Graças’, a nova novela das 21h
VÍDEOS: g1 em 1 Minuto Santos
Fonte: g1
