Trump imprime sinais contraditórios à guerra de nervos com Maduro


Imagem mostra o presidente dos EUA, Donald Trump (E), em Washington, DC, em 9 de julho de 2025, e o presidente venezuelano, Nicolás Maduro (D), em Caracas, em 31 de julho de 2024.
AFP/Jim Watson
Entre idas e vindas, a guerra de nervos promovida pelos EUA e direcionada à Venezuela já afundou 18 embarcações, matou pelo menos 65 pessoas, todas descritas pela Casa Branca como narcoterroristas, e promoveu o deslocamento de 20% dos navios militares americanos para o Caribe.
A pressão de Donald Trump em mais uma empreitada contra Nicolás Maduro tem um pano de fundo importante e conhecido — a participação da oposição venezuelana, desta vez liderada por Maria Corina Machado.
✅ Siga o canal de notícias internacionais do g1 no WhatsApp
O governo Trump dá sinais contraditórios sobre o objetivo do cerco à Venezuela e reluta em cravar se o desfecho desta campanha resultará em ataques a alvos dentro da Venezuela ou na mudança de regime no país caribenho. O presidente avalia os riscos de uma operação militar americana, que, se fracassar, seria custosa para a imagem de seu governo.
Mas, para a vencedora do Prêmio Nobel da Paz deste ano, não parece haver dúvidas sobre a saída de Maduro, conforme ela assegurou esta semana em participação, por vídeo, numa conferência empresarial em Miami, à qual também compareceu o presidente americano.
“Maduro começou esta guerra, e o presidente Trump vai terminá-la”, aposta.
No primeiro mandato, Trump vivenciou a experiência fracassada de avalizar o então líder opositor Juan Guaidó como presidente interino da Venezuela, numa afronta a Maduro. Respaldado pela cúpula militar, o ditador se manteve no poder, que cultiva há 12 anos, desde a morte de Hugo Chávez.
De volta à Casa Branca, o presidente americano investe em uma nova campanha para intimidá-lo, posicionando uma poderosa frota militar no Caribe supostamente para o combate ao narcotráfico. Em parte, ele acalma a base eleitoral de seu movimento Maga e de latinos exilados por regimes ditatoriais da América Latina, que tem no secretário de Estado, Marco Rubio, um de seus entusiastas.
A maioria dos americanos, contudo, se oporia a uma invasão militar americana na Venezuela, revelou uma pesquisa recente realizada por YouGov: apenas 30% disseram apoiar ataques militares contra embarcações venezuelanas e alvos terrestres — índice sete pontos abaixo em relação à última sondagem, em setembro.
Em uma reunião esta semana a portas fechadas com parlamentares americanos, o secretário Rubio e o chefe do Pentágono, Pete Hegseth, asseguraram que os EUA não planejam lançar ataques dentro da Venezuela. Admitiram também não ter justificativa legal para isso, segundo revelaram participantes do encontro à CNN.
Ainda assim, o Senado controlado pelos republicanos enviou uma mensagem de apoio ao presidente, rejeitando, na quinta-feira, uma resolução bipartidária que exigiria aprovação do Congresso para qualquer ação militar do presidente Trump contra a Venezuela. Horas depois da votação, Hegseth anunciou mais um ataque a um suposto barco de traficantes no Caribe.
Do outro lado, assolado pelo colapso interno, resultado de um novo mandato questionado, Maduro mobilizou paramilitares, intensificou a repressão aos opositores e pediu ajuda à Rússia para enfrentar a crise externa com os EUA.
No entender do analista político Benigno Alarcón, este é um ponto de virada para a Venezuela e a manutenção do status quo se tornou o caminho menos sustentável. Em artigo publicado no site do “El Nacional”, o especialista em gerência pública, conflito e negociação observa que a tensão central reside num paradoxo estratégico autodestrutivo: o regime chavista depende da pressão militar externa para gerar a coesão interna que lhe permite sobreviver.
“O profundo desejo de mudança entre a maioria da população se depara com um regime entrincheirado e um cenário de intervenção limitada, que, embora possa acelerar uma resolução, está repleto de perigos. Qualquer caminho para a resolução da crise venezuelana será inevitavelmente complexo e de alto risco, mas possível e necessário”, pondera o analista.

Fonte: g1 > Mundo