Vice-prefeito de Hortolândia preso fez compras de R$ 2,9 milhões em artigos de luxo e pagou R$ 1,2 mi por imóvel em espécie, diz MPF

Vice-prefeito de Hortolândia é preso em operação da PF contra fraudes em licitações
Preso na operação da Polícia Federal contra fraudes em licitações de material escolar em prefeituras do estado de São Paulo, o vice-prefeito de Hortolândia, Cafu Cesar (PSB), fez compras de R$ 2,9 milhões em artigos de luxo, pagou R$ 1,2 milhão por um imóvel em espécie e também teria acesso a uma BMW 320i por meio da empresa envolvida no esquema.
Segundo o Ministério Público Federal (MPF), a análise do Relatório de Inteligência Financeira “corrobora o aparente enriquecimento sem causa” de Cafu Cesar.
A investigação da PF aponta ainda indícios de que o vice-prefeito teria recebido R$ 2,5 milhões por meio de de terceiros – foram identificadas 15 transações para contas indicadas por Cafu.
Em nota, o advogado Ralph Tórtima Filho, que representa o vice-prefeito, informou que o “empenho da defesa está voltado neste momento para a soltura de Cafu, diante da mais absoluta desnecessidade de sua prisão”.
“Quanto às questões de mérito, embora apresentem graves equívocos, elas serão esclarecidas oportunamente, quando da oitiva de Cafu, que sequer foi ouvido pela Polícia Federal”, completou.
🔎 Carlos Augusto Cesar, o “Cafu”: é vice-prefeito e secretário de Governo de Hortolândia, investigado por atuar ativamente no direcionamento de licitações do município e liberação de pagamentos para a Life em troca de vantagens indevidas.
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Itens de luxo e imóvel milionário
Os gastos de Cafu Cesar apontados pelo Relatório de Inteligência Financeira chamaram a atenção do MPF.
Foram 31 comunicações ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) de compras, em espécie, de artigos de luxo em lojas como Gucci e Burberry. A soma totalizou R$ 2.933.113,00.
Além disso, o vice-prefeito e a ex-esposa compraram um imóvel em Sumaré (SP) por R$ 1.299.065,00, também com pagamento em espécie.
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Entre os bens supostamente adquiridos pelo esquema de fraude, Cafu César ainda teria acesso a um veículo BMW 320i Active Flex, da frota da Life Tecnologia Educacional, empresa que, segundo a investigação, era usada no esquema de fraude.
Nas investigações, o termo “320”, em referência ao veículo, aparece na agenda de André Gonçalves Mariano, apontado como o líder da organização criminosa, com referência a Cafu.
Segundo o MPF, isso indica “uma possível relação entre o vice-prefeito e o bem da empresa como contrapartida pela defesa dos interesse da LIFE no Poder Público”.
Cafu César, vice-prefeito de Hortolândia
Alesp/Divulgação
Quem é Cafu Cesar?
Carlos Augusto Cesar, conhecido como Cafu, tem 63 anos e é filiado ao Partido Socialista Brasileiro (PSB).
Ele foi eleito em 2024 como vice na chapa do prefeito Zezé Gomes (Republicanos), reeleito no primeiro turno com 55,07% dos votos válidos.
Quem é Cafu Cesar, vice-prefeito de Hortolândia preso em operação da PF contra fraudes em licitações
Natural de Ponte Nova (MG), Cafu declarou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ter ensino superior incompleto e atuar como aposentado, com patrimônio de R$ 1.315.955,00. Ele é divorciado e se identifica como branco.
A chapa “O trabalho tem que continuar, Hortolândia não pode parar”, formada por Republicanos, PP, Podemos, PSB, PSD e a Federação Brasil da Esperança (PT, PCdoB e PV), venceu as eleições de 2024 com 60.742 votos, e manteve no comando da prefeitura Zezé Gomes, que havia assumido o cargo após a morte do então prefeito Angelo Perugini (PSD) em decorrência da Covid-19.
Cassação de mandato revogada
Em janeiro de 2025, a Justiça Eleitoral de Hortolândia determinou, em 1ª instância, a cassação dos mandatos de Cafu e do vereador Leonardo Martins Moreira (PSB), o Leo do LM, por abuso de poder político nas eleições municipais de 2024.
Segundo a denúncia do Ministério Público Eleitoral, os dois teriam tentado coagir uma candidata da oposição a desistir da candidatura, oferecendo dinheiro e um emprego, além de fazer ameaças pessoais e ao comércio da vítima.
O prefeito Zezé Gomes (Republicanos) chegou a ser citado na ação, mas a acusação contra ele foi considerada improcedente por falta de provas.
Em agosto deste ano, porém, a decisão foi revertida em 2ª instância, favorável a Cafu – a cassação do mandato do vice-prefeito foi revogada, mas a do vereador foi mantida.
Segundo o relator da decisão no Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP), o desembargador Cotrim Guimarães, houve a gravação da reunião pela candidata ameaçada, que foi considerada ilícita e não pôde ser considerada para a análise do caso. As demais provas do processo foram suficientes para comprovar a conduta ilícita do candidato a vereador, mas não em relação ao vice-prefeito.
A defesa de Cafu negou as acusações e afirmou que não houve prática irregular, contestando a validade das provas apresentadas. A prefeitura informou, à época, que as funções administrativas permaneciam normais enquanto os recursos não fossem julgados em instâncias superiores.
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50 mandados de busca e seis de prisão
Durante a operação, foram executados 50 mandados de busca e apreensão e seis mandados de prisão preventiva em São Paulo, no Distrito Federal e no Paraná. Todos foram expedidos pela 1ª Vara Federal de Campinas (SP).
Ao todo, foram cumpridos 19 mandados de busca e três de prisão na região de Campinas (SP). Além da metrópole, as ações também ocorreram em Hortolândia, Sumaré (SP), Limeira (SP) e Piracicaba (SP), segundo apuração da EPTV, afiliada da TV Globo.
Os envolvidos podem responder por crimes como corrupção, peculato, fraude em licitação, lavagem de dinheiro, contratação irregular e organização criminosa.
➡️ Operação Coffee Break
50 mandados de busca e apreensão
6 mandados de prisão preventiva
5 pessoas presas
24 pessoas são alvos dos mandados
4 prefeituras ligadas à maior parte dos desvios: Sumaré, Hortolândia, Limeira e Morungaba
Café = propina; o nome coffee break se dá porque os suspeitos chamavam a propina de “café” — saiba mais aqui
Como funcionava o esquema?
Investigações apontam que o ciclo da fraude operava desde 2021 e envolvia agentes públicos, lobistas e operadores financeiros clandestinos (“doleiros”);

André Mariano, proprietário da Life Tecnologia Educacional, estabelecia contato com secretários de educação e servidores dos municípios;

A empresa vencia os certames com forte indício de pagamentos de propina a servidores;

As licitações eram fraudadas desde a base: os termos eram elaborados de forma que apenas os produtos da Life pudessem ser fornecidos e concorrentes eram desclassificados;

A apuração aponta que o sobrepreço praticado pela Life chegava até 35 vezes o preço de aquisição do produto comercializado;

Após receber os pagamentos superfaturados dos municípios, a empresa direcionava grandes quantias para empresas de fachada, muitas controladas por “doleiros” (operadores financeiros clandestinos);

Os “doleiros” usavam métodos como pagamentos fracionados de boletos e empresas de prateleira para lavar dinheiro e gerar quantias em espécie para o pagamento de propinas;

Esse dinheiro vivo, que André Mariano se referia como “café”, era então usado para pagar vantagens indevidas a servidores públicos e lobistas, garantindo o funcionamento do esquema.

Segundo a PF, a Life registrou uma entrada de R$ 128 milhões, por meio de mais de 305 transferências, sendo quase todas provenientes de prefeituras.
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O que dizem os envolvidos
A prefeitura de Hortolândia disse que aguarda o acesso às informações da denúncia para avaliar quais medidas serão adotadas.
A empresa Life Educacional, principal alvo da investigação, apenas informou que não vai se pronunciar.
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Fonte: g1